Mas Existe Educação Sexual Nas Escolas?

Não é aquele eufemismo da “Educação para a Saúde”? Que depois tem uns conteúdos transversais e meia dúzia de horas por ano para tratar não se percebe exactamente o quê. Hoje há por aí fartura de notícias sobre o assunto… porque as escolas “não cumprem” a lei, ou porque a dita cuja “não chega a todas as Escolas” ou porque lhe é “dada pouca atenção”.

Não sei se repararam, mas a culpa é sempre das “escolas”.

Como ainda ontem estive a escrever o meu naco de prosa para incluir no relatório de final de ano do trabalho com as turmas de 7º ano nesta matéria, gostaria de, com ressalva de excelentes exemplos e naturais excepções, deixar aqui umas breves notas, daquelas curtas e grossas, em crescendo de retórica irritação, tudo com conhecimento directo no chamado “terreno”.

  • Como está delineada a sua implementação a “Educação Sexual” é uma miragem, um simulacro, como tanta outra coisa despejada no currículo aos retalhos por políticos com mais agendas políticas do que verdadeiro interesse em servir os alunos.
  • O trabalho que muita gente tenta fazer é objecto de um notável voluntarismo e dedicação, quantas vezes dando apoio aos alunos de forma individualizada nos seus problemas em tais matérias, fora de horários e em situação informal. Há situações quantas vezes dramáticas que, por falta de um ambiente familiar estável ou estruturado, acabam por ter na escola o único apoio em termos de adultos.
  • Há encarregados de educação que, pela sua postura ideológica, recusam todo e qualquer trabalho nesta matéria com os seus educandos e educandas, chegando mesmo a fotografar a mera enunciação de temas a abordar ou sumários e a colocá-los nas redes sociais (por vezes recorrendo a terceiros por evidente falta de qualquer coisa a que se poderia chamar carácter) para “denunciar” a “lavagem cerebral” em decurso nas escolas por parte dos “radicais de esquerda”. Felizmente, nunca me aconteceu, mas já vi acontecer, incluindo a parte em que há quem manda divulgar e o operacional da divulgação.

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O Problema De Assistir A Comunicações Em Que O Comunicante Gosta Notoriamente De Falar Repetidamente No Mesmo Tema E Tem Do Tempo Uma Concepção Muito Relativa

Acontece. E tanto mais quanto mais notáveis se sentem no domínio da matéria. O tempo passa, escoa-se, esgota-se e a torrente é imparável, mesmo que seja pela décima vez que se fala no mesmo, há sempre um ângulo novo para dizer que um quadrado tem quatro lado e devem ser iguais.

E quando passam 15 minutos do tempo, o “moderador”, timorato, apresenta o papelinho dos 5 minutos e ouve-se uma das fórmulas sacramentais “estava mesmo a acabar, são apenas mais duas palavras”.

Claro que não são duas palavras, nem sequer 20 ou 200, ninguém espera isso. Pela medição do tempo académico 5 minutos para terminar uma comunicação são 10 minutos, pelo menos.

Quando ao fim dos tais 5 minutos se ouve um “portanto”… alguém que como eu foi criado a considerar “portanto” como uma conjunção coordenativa conclusiva, tende a suspirar de alívio e pensa que faltam apenas mais os tais 5 minutos adicionais da praxe académica.

Só que não… a gramática deu voltas e “portanto” passou a advérbio conectivo e não necessariamente conclusivo. Pelo que passados os tais cinco minutos surge um “então, agora mesmo para terminar” e há um rasto/resto de inocência em nós que quer acreditar, mas a realidade impõe-se para felicidade do orador que já está na esquina mais afastada da estratosfera do tema inicial. E segue-se um novo “portanto” e a dor torna-se dormência e já se espera por tudo até que, após pelo menos um par de “para concluir”, 25 minutos depois do papelinho original, inevitavelmente, ouve-se um “não tenho mais tempo, se não desenvolveria mais este aspecto de um tema que ficou por analisar melhor” e quando se segue um breve momento de silêncio, que confirma o final da análise em penosa profundidade daquela questão que quase nos interessou quando lemos o título, apetece cavalgar nos aplausos, porque, enfim, a torrente terminou.

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