A Ler – Maurício Brito

Um novo governo assumiu o leme, com a promessa de mudança e a intenção de corrigir injustiças. Proponho que se acelere, tão rápido quanto possível, a recuperação do tempo de serviço dos professores.

12 opiniões sobre “A Ler – Maurício Brito

  1. A reunião alongara-se e às três da manhã já estavam mais garrafas da robusta aguardente do Morgado estacionadas em cima de uma mesa da venda do que o número de convivas presente. Se os primeiros adiamentos se ficaram a dever à chuva que não amainava e às recusas do Rosmaninho — entrincheirado debaixo do telheiro —, que se recusara a transportar o dono de volta à herdade, a partir de certa hora apenas o próprio entusiasmo das forças vivas de Traseiras de Judas tinha alimentado o desenvolvimento de um projeto que roçava já a megalomania.

    — Compadres — abespinhava-se o Coxa, o indicador interferindo com a trajectória das moscas, também elas já afectadas pelos vapores etílicos —, se o prazo de validade é curto, mais uma razão para exigirmos apenas o melhor!

    — Talvez Joaquim, talvez. Mas o rebanho míngua e arriscamos a que o próximo não tenha quórum — apaziguou o cura.

    A retórica do seminarista era insuficiente, porquanto, neste domínio da discussão política, os movidos a álcool revelam melhor performance do que os movidos pela fé.

    — Não senhor, insisto que não nos podemos deixar tolher por calculismos — desembraiou o presidente da junta, à laia de quem mete uma quinta velocidade —. E, se é para deixar um bom pé-de-meia a uma multidão de analfabetos, insisto que se atribua a pasta das Finanças ao doutor Oliveira Salazar.

    A armadilha não tardou a surtir efeito e o cura pareceu amansar-se, já mais disposto a alinhar.

    — Pois sim. E para que tão ilustre personagem não estiole, por falta de ter com quem trocar ideias, sugiro para ministro da educação o Cardeal Cerejeira.

    Enquanto olhava para duas moscas poisadas dolentemente na borda do seu copo o dono da venda embalou para a estocada final.

    O Morgado, mais preocupado com a indisciplina do seu quadrúpede do que com o futuro da nação, remoía uma dúvida.

    — Pois vejo que aos meus ilustres amigos não falta ambição. Mesmo assim, receio que o empreendimento não tenha o sucesso merecido. Afinal de contas, porque deveria tão ilustre elenco aceitar uma tarefa que qualquer produtor mediano de Hollywood desempenharia sem dificuldade?

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  2. Joaquim da Rola fingiu considerar o argumento mas, no fundo, aproveitava para criar uma pausa dramática.

    — Para as relações com a banca estrangeira — sentenciou o autarca —, exijo um último assomo de denodo patriótico ao nosso Alves dos Reis, enquanto que para os negócios estrangeiros só há um candidato possível, o nosso Cristiano Ronaldo.

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    1. e vai ser ele que vai mandar, assim como o Costa mandava a sério no outro…

      este tipo é um ultra-neo-liberal completamente a leste da educação em Portugal, nem vale a pena, vai ser mais uma desgraça…

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        1. A campanha anti-sns da Ordem Mafiosa dos Médicos e da SIC já acalmou, porque sabem que agora vai ser destruir à descarada e entregar os restos aos grandes grupos.

          Na educação, pelo menos a grande maioria dos profissionais são a favor do sistema público e ainda vão resistindo às loucuras pró-municipalização e privatização (por enquanto)

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