Novo Dicionário Educacional – Letra C

Capacitar – é o novo verbo favorito em matéria de Educação e não só. Cada período, mais ou menos cada década, tem as suas palavras favoritas, em forma nominal, adjectiva ou verbal, sendo que se nota uma especial predominância pela letra C. Nos anos 90 do século XX tivemos o império incontestado das competências (verbete na letra C), seguindo-se um ligeiro predomínio dos conhecimentos (idem, verbete conjunto) a partir dos inícios do século: Nos últimos anos passámos para as capacidades (é interessante reparar a frequência do termo nos diplomas legais, nomeadamente relativos à avaliação dos alunos mas não só, desde 2011. No decreto-lei n.º 139/2012 de 5 de julho temos 10 vezes em 16 páginas o termo “capacidades”; no mais recente despacho normativo n.º 17-A/2015 temo-lo 12 vezes em apenas 9 páginas. Embora nas 8 páginas do despacho normativo n.º 1-F/2016 a frequência desça bastante (apenas 1 vez), a verdade é que o encontramos espalhado em diversas variantes em outros documentos de trabalho ou estudos na área da Educação. A frequência com que passaram a surgir termos como capacitar ou capacitação tem clara origem no Brasil, aplicando-se à sua formação no sentido de os tornar capazes de qualquer coisa (Educação Especial, Educação Ambiental) até de aumentar exponencialmente o desempenho dos alunos, ou seja, declarando-os incapazes até então. Entre nós, para além de já dar nome a um programa governamental na área da administração local, alastrou com enorme rapidez na área de estudos como os relatórios do CNE, aparecendo – a mero título de exemplos – 27 vezes nas actas do seminário sobre Avaliação Externa e Qualidade das Aprendizagens (2014) e 20 vezes no estudo Organização escolar: as turmas, entre diversas outras aparições. O verbo capacitar, associado às capacidades, tem uma novidade em relação aos termos antes muito usados como competência ou conhecimentos. No caso das daquelas temos dificuldade em associar-lhe um verbo, enquanto no caso dos segundos, o verbo conhecer é um verbo que transmite a ideia de um sujeito activo, que conhece. Já o verbo capacitar pode ter uma dupla acepção, a de transmitir uma capacidade, mas também (em especial quando se fala em “capacitar os professores para…”) a de alguém ganhar uma aptidão para algo, tornar-se capaz de, sendo neste caso um sujeito passivo que recebe algo ou um sujeito que antes era incapaz de. Um outro significado é ainda o de acreditar ou fazer acreditar o que já nos remete para a esfera das crenças e da persuasão. O que também tem a sua lógica, em especial quando se acha que tudo se pode substituir pela capacitação dos professores para tudo e mais duas coisas.. Mas, como me dizia uma colega há dias, capacitar faz-lhe sempre lembrar outro verbo que, pessoalmente, remete para um domínio dolorosamente incapacitador.

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