Em que sentido? No de obrigatórias?
O que vou sabendo da reunião realizada em Lisboa entre director@s e presidente do JNE (mestre Luís Santos, que julgo desconhecer em concreto) revela a visão peculiar que os responsáveis do ME (políticos ou operacionais) têm da liberdade e democracia, em geral, e da tal confiança nos professores e na autonomia das escolas, em particular.
A confirmar-se o que vou ouvindo, e o objectivo é obrigar a maioria das escolas a fazer as provas de aferição que eram obrigatórias antes de passarem a facultativas e agora tornarem a ser, de facto, obrigatórias. Para isso, irão lixar-se na fundamentação apresentada pelas escolas que não pretendem fazer as provas, impondo indeferimentos a granel, com maiores ou menores bordoadas na coerência.
Uma vergonha que não sei se irá repetir-se em outras zonas do país.
A confirmar-se (repito), aguardo posição malabarista dos defensores da teorização da imensa bondade de “entregar a decisão às escolas”.
Para efeitos da habitual controleirice a caça às bruxas… quero desde já declarar que estas informações não foram obtidas junto de directores da minha zona de residência ou trabalho. Porque eu sei, por diversos exemplos do passado, o que certos aparelhos são capazes de fazer.
E a tinta invisível que está espalhada por todas as partes.
Este texto do Pedro Santos Guerreiro é um exercício no fio da navalha que para mim tem três pontos fulcrais entre o que diz e o que não pode dizer:
Os jornalistas estão numa situação muito delicada com o que têm nas mãos e receiam publicar coisas demasiado prejudiciais para gente com demasiado poder sem se defenderem com todas as provas e fundamentações possíveis.
É necessário pressão pública, de todos nós, para que as coisas se saibam e mudem.
Muito ficará por se saber se vencer a teoria do “temos de mudar os procedimentos e não de apontar dedos”.
Que o MEC se prepara para indeferir (na esteira de outros indeferimentos com valor jurídico mais do que questionável e apostando na estratégia do “faz e pronto”) as fundamentações para não realizar as provas de aferição FACULTATIVAS, embora aceite como justificação para essa recusa a realização de visitas de estudo com mais de um dia previstas no PAA?
Temos de ir passear, é isso?
Espero, com sinceridade, que não atinjamos tamanho nível de palhaçada, até porque – dizem eles – têm imensa confiança nas escolas e nos professores. Desde que façam o que eles querem.
Já agora… deixem-me adivinhar. Os professores das escolas que apresentarem fundamentação para a não realização das provas serão os primeiros na fila para classificadores?
Alguém que se chega à frente para defender uma medida que, no escasso entendimento de alguém que está num agrupamento com uma unidade de ensino estruturado para alunos com perturbações do espectro do autismo, deveria pensar duas vezes antes de dizer o que disse.
Agora de que reforço de meios se trata, não sei bem. Querem ter um segundo professor na sala de aula para acompanhar estes alunos, é disso que trata a “operacionalização”? É a isso que chamam “inclusão”? E se pensássemos nestas coisas mais na base do concreto e não na base deste tipo de demagogia? Querem definir o que é exactamente “dignidade”?
Via e ouvia o secretário de Estado da Educação naquela sessão dedicada a militantes do PS em Aveiro a enunciar a sua “confiança” nos professores e escolas e pensava como temos a memória curta e nos esquecemos que isto já foi dito imensas vezes sem qualquer conteúdo substancial.
Como até agora nestes primeiros cinco meses deste mandato.
Analisemos outras palavras e os actos do actual ME: as escolas estavam pejadas de “más práticas” ou de “práticas nocivas” por causa das provas finais. Estava a “afunilar-se o currículo”. O que significa que escolas e professores estavam a agir mal, incapazes de resistir às más influências. Agora são as turmas com alunos com NEE que se ouviu dizer que estariam pouco tempo com os restantes colegas; sendo que o seu currículo é desenhado pelos professores do Ensino Especial, percebe-se que é sobre eles que recai a desconfiança dos governantes.
Governantes que, como outros, enunciam uma confiança que na prática se concretiza na ausência de uma qualquer palavra acerca do descongelamento da carreira ou sobre uma nova forma de encarar a farsa da avaliação do desempenho. Porque este ministro e esta equipa só são eduqueses em matéria de avaliações/aferições até chegar à porta dos docentes.
É tão interessante ver gente a tentar passar despercebida e a não comentar algo que se fosse o outro ministro a legislar já teria sido motivo para rasgarem as vestes em público. Até o Super-Mário parece ter perdido os seus poderes maléficos e ninguém o vê à luz do dia.
Confiança nos professores? Sim, claro, daqui a bocadinho já vou ver com que confiança inspeccionam o dossier com a reposição mensal dos 5 minutos em falta por cada aula de 45. É só confiança e caldos de galinha.