Expliquem-me, Como se Fosse Moreno Falso

Para que raio se prevê que “no ano letivo de 2015 -2016, podem ainda ser realizadas provas de Português e Matemática nos 4.º e 6.º anos de escolaridade, visando a aferição e a obtenção de dados de fim de ciclo”?

Então estão-se a validar, mais um ano, as práticas “nocivas” das escolas, que “afunilavam” o currículo e só serviam para “treinar para exames”, denunciadas pelo ministro e pelo secretário de Estado em várias ocasiões? Para que servem, exactamente? Se é para obter dados úteis, então porque não são mantidas nos próximos anos? Se não são, para que servem? E se são feitas a nível de escola, no que se distinguem de um teste comum feito internamente? Por causa da matriz nacional? E a classificação é feita internamente?

Então se existirem uns directores assim para o hiperactivo por procuração, temos provas no 2º, 4º, 5º, 6º, 8º e 9º ano? Umas nacionais, outras locais, todas de aferição, a não contar para a nota nem para o ranquingue, com matriz nacional, tudo em nome da autonomia e liberdade das escolas?

E as crianças, senhores? As que fizeram “exames da 4ª classe” o ano passado levam com as provas de 5º em cima?

Aquela deputada toda avant-garde do PS não tinha dito que o massacre terminara?

Iupi, sai mais um copito para a mesa do canto.

Shot

Decreto-Lei n.º 17/2016 de 4 de Abril

Foi publicada a “terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho, que estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão dos currículos dos ensinos básico e secundário, da avaliação dos conhecimentos a adquirir e das capacidades a desenvolver pelos alunos e do processo de desenvolvimento do currículo dos ensinos básico e secundário”. O que naturalmente me deixa em estado de entusiasmo supremo.

Adoro o novo articulado, tem um tom nostálgico e retro qb. Penso que fará as delícias de quem se profissionalizou nos anos 90 do século passado, pois é um mergulho, em alguns parágrafos, em toda aquela doçura preambular que faz da nossa legislação um candidato natural ao Nobel. E, neste particular, temos nacos antológicos, como o seguinte:

No quadro deste processo, consolidou -se a evidência de que o modelo a adotar teria de ter subjacente um conjunto de pressupostos, nomeadamente que as dinâmicas de avaliação visam a melhoria das aprendizagens e o sucesso escolar dos alunos, que a avaliação contínua deve ser o instrumento por excelência da avaliação interna, devendo os instrumentos de avaliação externa atuar como recurso que potencie a avaliação interna realizada na escola, que a avaliação externa, centrada em apenas algumas disciplinas, conduz a um estreitamento curricular sentido pelos professores e pelas famílias, na medida em que não é produzida informação sobre outras áreas curriculares e, finalmente, que a aposta continuada na qualidade, pertinência e oportunidade da informação devolvida à escola, às famílias e aos outros agentes permitirá uma ação concertada e uma maior confiança no sistema.

Mas há mais, como esta passagem, mais curta mas não menos paradigmática:

Sem prejuízo das especificidades que distinguem os processos de avaliação interna e externa das aprendizagens, no que respeita ao desempenho dos alunos e ao desenvolvimento do currículo, a análise dos dados recolhidos deve valorizar leituras de complementaridade, de modo a potenciar a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem.

A mim, quando aparece algo que potencia, deixa-me logo em brasa. Melhor mesmo, só se me capacitarem.

Há só um detalhe que me obscurece a mente, mas é apenas porque eu sou tacanho de horizontes e arcaico nos conceitos e suas formulações. Se (artigo 25º) “a evolução do processo educativo dos alunos no ensino básico assume uma lógica de ciclo, progredindo para o ciclo imediato o aluno que tenha desenvolvido as aprendizagens definidas para cada ciclo de ensino”, alguém me explica como é que a malta se orienta para saber o que calhará nas provas de 5º ano (ou de 2º ou de 8º)?. Porque, afinal, numa lógica de ciclo, não nos devemos deixar dominar pelos normativos programáticos do outro senhor, estanques e assombrados por um falso rigor, e há ritmos e ritmos, há ir e voltar, mar e amar e mais umas coisas em forma de coiso e tal e eu acho isto tudo uma ganda treta mas é apenas porque sou má língua e de más línguas está o inferno cheio e todo um género desanimado.

A menos que seja um bocado à sorte e então eu já acho bem, numa lógica de progressividade transversal de uma abordagem flexível do currículo ajustada ao paradigma que reemerge no nosso sistema educativo, que é como quem diz um bocado holístico da parte da mãe e conceptual da parte do pai biológico.

E pronto.

Nutty

A Ler

Apesar de uns quantos deslizes para a propaganda (porque a anti-propaganda também o é) em relação à ideologia nos manuais de História (quase no final do artigo), a Helena Matos tem aqui uma boa prosa sobre os manuais escolares e o seu preço completamente desajustado à realidade de muitos alunos, só se compreendendo que tudo assim seja mantido graças à injecção directa de dinheiro público, via ASE. Esta é uma das matérias em que sou um bocado pró liberal.

Money

A Seu Tempo?

Começa a cheirar-me a fumo. Já com o wikileaks a coisa começou assim e deu em quase nada por cá. Alegar  a necessidade de investigação é bonito, mas em outros casos foi meia bola e força. Espero que o esquema seja revelado com todos os nomes mesmo e não seleccionar apenas alguns com base em critérios editoriais. Claro que dá jeito colocar Putin à frente da coisa e dar um cheirinho de Messi. Porque a normalização disto tudo não é assim tão difícil. Não é duvidar da palavra do Pedro Santos Guerreiro, longe disso, mas ter a consciência de que há muita coisa se passa acima das suas capacidades.

A publicação dos ficheiros do Panamá revela mecanismos globais criminosos nas cúpulas de poder financeiro, político e empresarial. Lavagem de dinheiro, corrupção e financiamento de atividades criminosas mostram comportamentos que põem em causa a forma como as sociedades se organizam, e merecem atitudes de investigação, diz Pedro Santos Guerreiro na SIC Notícias, que responde que há casos portugueses que estão a ser investigados no Expresso e que a seu tempo serão noticiados.

Só para dar uma ideia, veja-se como as coisas já estão na Austrália:

“Currently we have identified over 800 individual taxpayers and we have now linked over 120 of them to an associate offshore service provider located in Hong Kong,” the Australian tax office said in a statement emailed to Reuters. It did not name the Hong Kong company.

ATO Deputy Commissioner Michael Cranston said his office was working with the Australian Federal Police, the Australian Crime Commission and anti-money laundering regulator AUSTRAC to further cross-check the data.

“Some cases may be referred to the Serious Financial Crime Taskforce,” Cranston said in the statement. “The message is clear – taxpayers can’t rely on these secret arrangements being kept secret and we will act on any information that is provided to us.”

idees-noires