Cada vez adoro mais estudos que acham aquilo que queriam provar logo à partida, porque o “mercado académico dos estudos” exige que os investigadores se especializem num dado nicho e o explorem em todas as facetas. Exagero? Generalizo? Nada disso, antes assim fosse. Tomara saber menos do que sei sobre a produção da ciência social entre nós. Garanto que vou ler o estudo para percber se o título da peça é uma generalização abusiva ou se o cientista social Pedro Abrantes e a sua colega Cristina Roldão (que desconheço em concreto) só disserem a palermice ou se a escreveram com chancela científica. Diz ele que “A cor da pele conta para os resultados dos alunos”, deduzindo-se que obtém essa relação através da análise entre o desempenho dos alunos e o seu grupo étnico. A tese parece evidente na sua simplicidade matemática. Ou seja, tomando à letra, os alunos serão discriminados nas nossas escolas devido à cor da pele. É o que está escrito.
Repito que irei ler o estudo antes de disparar em força sobre os investigadores em causa, porque quero ver se eles não analisaram outras variáveis relacionadas com – assim de cabeça – o nível socio-económico da família destes alunos, a sua composição e nível de desestruturação, a escolaridade anterior dos pais e tudo aquilo que faz com que estes alunos cheguem à escola numa situação de enorme desigualdade que nas escolas se tenta equilibrar até aos limites do possível. Espero que os investigadores estejam informados sobre os estudos que fazem o cálculo da probabilidade de (in)sucesso de determinados grupos de alunos com base no seu contexto familiar, social e económico para perceber se estes alunos, no seu conjunto e apesar do seu nível de insucesso, não conseguirão até atingir melhores resultados do que os esperados.
A sério que vou ler e só depois generalizar sobre os estudos tipo-isczé sobre as desigualdades socio-educacionais em Portugal. Porque não quero fazer acusações generalistas como as de racismo que me são dirigidas enquanto professor por um par de criaturas que não sei se sabem mais do que de relações estatísticas e observações de aulas, mesmo se um é “autor de 5 livros e 27 artigos em revistas científicas com referee, 13 deles no estrangeiro” e tenha colaborado “com a Fundação Aga Khan, no programa K’Cidade, e com o Ministério da Educação, nos programas Novas Oportunidades e Avaliação Externa de Escolas”. Ter sido avaliador externo das escolas públicas entre 2006 e 2009 faz-me logo soar campainhas de alarme, mas podem ser injustificadas as minhas reservas, porque a sua tese de doutoramento até tem partes interessantes, com alguns pré-conceitos bem escondidos numa escrita típica de uma sociologia da educação dos anos 60-70 do século XX.
Quero acreditar que as “boas intenções” não sejam daquelas que esgotam a lotação do inferno. Até porque acabei de dar uma aula a uma turma com 28 alunos (com 27 presentes), dos quais apenas 12 são caucasianos (entre os quais um ucraniano) e preciso saber com urgência se sou um cripto-racista, um colaboracionista com o “racismo institucional” das escolas portuguesas. É verdade que o nível de sucesso é (neste caso) exactamente o mesmo entre os vários pigmentos em presença, mas talvez seja apenas porque eu sei esconder muito bem os meus mecanismos discriminatórios. Acredito que um investigador atento descubra que eu dou “positiva” aos alunos azuis menos claros apenas porque sou um xenófobo com os instintos controlados. Devo ter um qualquer tique que me denuncie. Por exemplo, a irritação que sinto perante simplismos. Deve dar para umas tabelas em excel e umas regressões e variâncias.

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