Ainda os Rankings

No Diário Económico de hoje:

Rankings, sim, mas…

O conhecimento público dos dados sobre o desempenho dos alunos nas provas finais e exames do Ensino Básico e Secundário é algo positivo para toda a sociedade e para o sistema de ensino. A sua transformação em ‘rankings’ de consumo rápido nos primeiros anos da divulgação da informação transformou-os numa arma de disputa política e ideológica em vez de os tornar num útil instrumento para a análise da realidade que levasse a uma melhoria global do sistema de ensino.

Ao longo do tempo, a informação disponibilizada sobre as escolas públicas foi-se alargando e permitindo matizar os resultados absolutos com indicadores do contexto sócio-económico e cultural dos alunos e respectivas famílias. Infelizmente, toda esta informação sobre as escolas públicas não tem tido contrapartida no sector privado, sobre o qual continuamos a desconhecer muitos dados essenciais para que a comparação dos diferentes tipos de escolas possa ser feita com pleno conhecimento das diversas realidades em presença.

Os ‘rankings’ só atingirão a perfeita maioridade quando, para além de alcançarmos uma completa transparência dos dados disponíveis, os instrumentos de avaliação externa deixarem de mudar anualmente de natureza, de grau de dificuldade ou mesmo de critérios de classificação. É complicado estabelecerem-se análises significativas das tendências de médio prazo, à macro ou micro-escala, quando se comparam provas de aferição com provas finais ou quando se comparam resultados em disciplinas, como em Português ou Matemática, que mudam de programa duas ou três vezes num punhado de anos.

Enquanto estes problemas não forem resolvidos os ‘rankings’ continuarão em busca da sua idade adulta e não contribuirão, como poderiam, para um melhor conhecimento e melhoria da qualidade do nosso sistema educativo.

rankings

2 opiniões sobre “Ainda os Rankings

  1. Raciocínio impecável, se assumirmos que quem inventou os rankings e vai investindo nisto os recursos públicos ano após ano está interessado no “melhor conhecimento e melhoria da qualidade do nosso sistema educativo”. Parece-me que não, e que é evidente que os rankings existem, isso sim, para a promoção do ensino privado.

    Também não vejo ninguém interessado em construir estatísticas educativas a longo prazo. Fazem-se a 4 anos, o tempo de uma legislatura se tudo correr bem, com maus resultados no início e depois a melhorar à medida que as políticas vão fazendo o seu efeito. E os exames e respectivos rankings encaixam aqui às mil maravilhas.

    Quanto aos dados de contexto, faltam por exemplo os meninos que têm/não têm explicações, coisa que no 12º ano conta, e muito. Depois aparecem aqueles resultados “acima do esperado”…

    Os dados de contexto

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