Afinal de Contas…

… parece que o estudo da OCDE sobre a reprodução da pobreza não diz bem aquilo que parece que diz. Fui ler o original (um mau hábito antigo, de que não me consigo livrar com facilidade) e o que encontrei?

Que há pelo menos uma coisa que passou ao lado de quem analisou os dados de forma apressada ou parcelar e quis apresentar-nos com um caso singular de falha da Educação como promotor da ascensão social: a posição de Portugal nesse estudo não é muito inferior à média dos países da OCDE que foram analisados e está em linha com o que se passa em países como a Irlanda, a Itália, a França, a Grã-Bretanha, a Suíça, os Estados Unidos e Coreia do Sul, em que a pobreza também se replica por cinco gerações (na OCDE a média é 4,5) ou mesmo acima do que se passa com a Alemanha (6 gerações). Sendo que alguns destes países são apresentados com níveis de qualificação da população muito acima da portuguesa. Ou seja, o problema não está na situação nacional, mas na forma como a Educação perdeu mesmo a sua capacidade de promover a mobilidade ascendente.

OCDE 1-5 generations

Agora É Continuar E Não Se Jogar Para o 1-0

(apesar da plataforma ter bloqueado às 19999 assinaturas… mas já desencravou…)

ILC 20 000

A ideia não é parar… é continuar e conseguir o objectivo por larga margem, visto que o principal se conseguiu – com diversas e desnecessárias chatices – em dois terços do tempo disponível.

Claro Que a Culpa É dos Professores

As “elites” que governaram o país, década após década, por vezes em sistema de linhagem dinástica, não têm qualquer responsabilidade.

Reparem nos factos:

Estagnação social agravou-se a partir dos anos 1990

Quanto à mobilidade social ao longo da vida de cada um, é também limitada, particularmente nos escalões mais baixo e mais alto de rendimentos. No escalão de rendimentos do topo, 69% das pessoas que se enquadram nesta categoria tendem a permanecer nela ao longo dos quatro anos seguintes. E aqueles que se enquadram no grupo dos 20% da população com rendimentos mais baixos “têm poucas hipóteses de subir no escalão de rendimentos” nos quatro anos seguintes do período analisado”: 67% ficam encurralados nesse escalão, como se estivessem “colados ao chão”, na expressão dos peritos europeus, segundo os quais esta “cola” se reforçou a partir dos anos 1990.

O desemprego de longa duração e a segmentação do mercado laboral podem ajudar a explicar o agravamento desta falta de mobilidade social nos escalões mais baixos. “A crise contribuiu para que esta mobilidade social ascendente não ocorra, nomeadamente por causa do aumento do desemprego de longa duração.

Reparemos na “inevitável” interpretação que surge, como se maior escolaridade criasse mais emprego por si só ou melhores empregos. Acaso o estudo contabilizou a quantidade de licenciados e mestres a trabalhar em empregos precários para os quais não seria necessário mais do o 12º ano? Mas não foi a partir dos anos 90 que a escolaridade dos portugueses subiu de forma significativa, em especial ao nível do Ensino Superior?

“Apesar das reformas generalizadas que visam melhorar o nível de escolaridade e reduzir o abandono escolar precoce em Portugal, as hipóteses de os jovens terem uma carreira de sucesso dependem fortemente das suas origens sócio-económicas e do capital humano dos pais”, acrescenta o relatório.

“A educação é um elevador social. O problema é que nós temos um nível de escolarização ainda muito abaixo da média europeia. E, porque a educação, sobretudo ao nível secundário e superior, não está ainda suficientemente generalizada, isso expressa-se depois num maior fechamento do percurso social ascendente”, interpreta o director do Observatório das Desigualdades, Renato do Carmo.

A “educação é um elevador social” quando existe electricidade e espaço para muita gente. Caso contrário, o elevador fica parado. E há quem suba por escadarias com tapete vermelho.

M€rd@, estou farto desta narrativa.

Haddock

Esclarecimentos na 2ª Feira?

De acordo com o Sol (notícia ainda sem link) o SE Costa estará hoje no Norte a tentar convencer umas dezenas de directores a colaborar com a estratégia do Governo no conflito com os professores e terá prometido para 2ª feira um esclarecimento à desastrosa “nota informativa” da DGEstE. Atendendo às declarações recentes em que afirmava que essa “nota” se limitava a transpor o que está na “lei”, não sei se essa é uma boa ou má notícia. Apenas registo que existe preocupação suficiente para enviarem o governante sorrisos para conseguir converter os directores renitentes.

O que acho estranho, ou me por isso, nisto tudo?

O desaparecimento do ministro Tiago e da secretária Leitão, a qual até deveria estar ufana nos seus truques legislativos que tiveram uma decisão favorável recente quanto ao concurso de Agosto. Só que os seus dotes empáticos para com os professores tendem para menos de zero.

carnaval