Por Amarante

Porque o desrespeito pelo Património e pela Memória Colectiva se tornou uma marca d’água de intervenções “modernizantes” e “inovadoras”, bem pagas a nomes sonantes e com negócios chorudos com o pato-bravismo nacional.

Amarante, Pelo Direito à Memória – Semanário Sol

Amarante

2 opiniões sobre “Por Amarante

  1. Muito obrigada pela ampliação da nossa voz que nunca desistirá de defender Amarante!

    Amarante é uma terra especial, não porque é a minha, mas porque lhe reconheço um núcleo muito belo, aninhado mas altaneiro relativamente a um rio que lhe corre aos pés. Amarante nunca foi uma terra exposta ao olhares do mundo no sentido em que, para os visitantes, a terra só se vislumbra na parte que interessa quando o visitante já está em cima dela e a percorre descobrido os seus cantos e recantos. Ok, com a abertura da ponte nova, quem por lá passe e olhe para a sua esquerda, mesmo que não seja de Amarante e dela nunca tenha ouvido falar, por certo soltará uma qualquer exclamação de espanto perante tamanho equilíbrio, beleza, harmonia entre um espaço construído pela mão do Homem e um espaço que, alterado pelo Homem, permanece mais ao sabor da nossa Mãe Natureza e das suas estações.
    Amarante é assim encantamento, mistério, romantismo, memória, recato, propícia à descoberta de quem a queira descobrir com olhos atentos, se possível olhos de ver. Amarante não se coaduna com escancaramento, com feira de vaidades, com exposição excessiva para quem chega, com uma arquitectura que eu considero arrogante e espalhafatosa, tal a alteração que provoca numa leitura atenta da cidade, na vida de uma cidade, nos fluxos de uma cidade, na matriz identitária desta mesma cidade.
    Estando situados na margem esquerda do rio, nós temos o filme todo da cena. E a cena é composta com dois brutais contrafortes graníticos que sustentam duas praças que ladeiam de igual para igual a Ponte Velha, um outro contraforte construído com igual material. Ao fundo, no Largo de S. Gonçalo, ergue-se o Peitoril, ergue-se a fachada da Igreja de S. Gonçalo e, já na entrada da alameda, a continuidade granítica está assegurada pela capela-mor da Igreja, implantada em sítio improvável. E situados no Largo de S. Gonçalo, na margem oposta à anteriormente tratada, o contraforte granítico continua assegurado e apenas está amenizado pelo casario que escorre desde a Ponte Velha até ao Arquinho, ele próprio contraforte só pontualmente interrompido.
    Ou seja, Amarante, que nunca teve cintura de muralhas, situa-se altaneira no vale profundo, sobre e amparada neste granito que é dela e é preciso penetrar nela para a descobrir, o que faz, quanto a mim, muito do seu encanto.
    Depois destas objecções, que já não são poucas, temos as árvores que, com este projecto teriam de ser derrubadas e abatidas, transformando as duas plataformas em mais duas eiras áridas onde as temperaturas escaldariam literalmente no Verão, sofrendo a bem sofrer que se aventurasse por estes espaços fora.
    E, igualmente importante, por quanto ficaria a execução de um projecto desta natureza, com o desmantelamento de tão brutal muro, com o desaterro de uma quantidade tão brutal de terra… para remontar o muro, pedra pedra, mais atrás, para criar uma plataforma artificial para onde se expandirá, à martelada, um mercado que terá sempre de se fazer, aqui, a céu aberto?
    Ainda mais haveria que dizer, mas, para já fico-me por aqui, esperando que o DGPC não autorize nunca semelhante martelada a Amarante. A zona é protegida… valha-nos ao menos isso… talvez…
    A bem de um património que é nosso e que nos foi legado pelos nossos antepassados e sobre o qual só devemos intervir com pinças e nunca com buldózeres. A bem igualmente da sustentabilidade das finanças locais.

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  2. Belo olhar sobre Amarante, Anabela! Parabéns!
    É sempre bom ver que ainda há quem olhe com respeito e encanto para o passado, principalmente quando este se entrelaça harmoniosamente com o presente (futuro de ontem).

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