Os Compadres Zangaram-se…

… ou querem provas para memória futura, que possam publicitar se necessário, de que nada disseram de errado e que o podem demonstrar ao pessoal?

Será que a “pressão” vai produzir algo interessante?

FENPROF requer ao ME cópia das gravações áudio das reuniões realizadas, incluindo sobre a revisão do regime de concursos

(…)

“Na sequência da reunião realizada em 29 de novembro com a presença de V. Ex.ª e das dúvidas que se levantaram sobre o que foi dito, ou não, em reuniões anteriores, mas tendo em conta, igualmente, que há atas de reuniões já com meses de atraso, o que dificulta a sua apreciação rigorosa, vem a FENPROF requerer a V. Ex.ª o envio de cópias das gravações áudio das reuniões realizadas, tão rapidamente quanto possível, para que possa ser feita a sua audição e, assim, os membros das delegações sindicais fiquem aptos a apreciar e fazer propostas para as atas – que, recordamos, têm caráter obrigatório – com o rigor que já atrás é referido”.

João De Lourdes

Quem conhecer a autoria, agradeço que me comunique, pois gostava de agradecer a inspiração (deixaram-me mais abaixo a indicação que é do Luís Costa, a quem dirijo então o cumprimento, até porque já fui visado por ele no passado). Faz-me lembrar os bons tempos do WeHaveKaosintheGarden. Só falta o arrotinho.

Mais Uma Travessia Do Mar Vermelho?

Temos tido várias, como metáfora bíblica para tentativas de separação das águas entre uns e outros, mas sem que nunca o processo fique claro, pois há sempre quem ande em trânsito, perninha aqui, perninha ali, por muito se diga que há entrincheiramentos, no campo sindical e mesmo na vida das escolas.

Eu explico-me, porque não terá ficado muito clara a ideia.

No momento actual, é bom que algumas pessoas, independentemente da sua “posição” presente, decidam de que lado estão. Se ainda se consideram professores ou se, sendo professores, acham que a “idade” (cronológica, na carreira ou à porta dela) e o tipo de “estatuto” é mais importante do que uma comunhão de interesses. Adicionalmente, se o cartão partidário ou a fidelidade a um dado grupo é mais importante do que aquilo que é comum à sua condição de professor, neste caso do ensino público não-superior. Se prefere as eventuais vantagens de uma posição indefinida, vaga ou claramente alinhada com a da tutela, no sentido de daí tirar vantagens de curto-médio prazo ou se dá mais valor à coerência e à dignidade do grupo profissional a que pertence, mais ou menos escalão, mais ou menos cargo de liderança intermédia, mais ou menos esperança de fazer parte de algum “grupo de trabalho” ou “projecto” inovador, mais ou menos crédito horário para escapar às salas de aula.

A investida no sentido de desregular por completo a gestão dos recursos humanos nas escolas, neste caso dos docentes, é clara e não adianta o ministro vir dizer que não ou andarem arautos seus pelas escolas a dizer que o “senhor ministro nunca pensou em tal coisa” ou “nunca propuseram que os professores passariam para as câmaras”. É curioso que exista quem saiba o que o ministro pensa. Ou pensa saber, porque lhe disseram que (não) é isso. E é curioso que se negue uma proposta que ninguém (ou quase ninguém) disse que foi feita. O que está em causa não é a existência de concursos para professores feitos pelas câmaras, mas a gestão de quem entra para a carreira a partir de conselhos (inter)municipais de directores e a concretização, na prática, do fim da ligação de um professor ao seu agrupamento, depois de ter sido quebrado o laço à sua escola (excepção às não agrupadas).

Existe uma estratégia, velhota, tipo universidade de verão de uma qualquer jota, de alguém se indignar e dizer que nunca pensou fazer determinada coisa que, em boa verdade, ninguém o acusou de querer fazer. Deixando as entrelinhas suficientes para que se faça algo que, sendo diferente, é igualmente mau.

“O senhor ministro nunca pensou que seria boa ideia atirar calhaus aos professores!” Sim, é claro que é verdade. Mas quando se diz isso, não se diz que ele nunca pensou dar uma banhada das grandes, em forma de granizo. Dizer que algo não é lama, não quer dizer que não seja barro.

Fiz-me entender?

Não?

Então de forma mais curta… tomem atenção ao que é dito e negado, mas também ao que não é dito ou negado. E tomem atenção aos termos usados para desviar atenções ou para introduzir ideias que podem passar despercebidas à primeira.

Por exemplo… não se trata de alterar a “vinculação”, mas as formas de “distribuição” ou “alocação”.

Traduzindo… entram para os quadros – preferencialmente qzp – mas depois não são distribuídos de acordo com a vossa graduação no concurso e preferências individuais, mas por outros critérios. De “perfil de competências” ou de “adequação a projectos”.

Por exemplo.

Neste contexto, interessa perceber de que lado ficam certas figuras. Para isso, independentemente do lado que escolham, é bom que o expliquem publicamente, sem tibiezas e habilidezas. Ou sim, ou sopas.

Para isso já chega o sonso do costume.

(apostilha: reparem que nem falei sobre greves… porque essas são outras águas)

4ª Feira

O ministro Costa anda meio atrapalhado. Parece que está a derrapar ligeiramente o plano para resolver umas coisas em circuito fechado, seduzir uns quantos sindicalistas para o “acordo possível”, contar com a colaboração dos directores para o seu plano de “distribuição” ou “alocação” dos professores em quadros que foram apresentados explicitamente como de âmbito intermunicipal (o ppt é claro, não adianta pintar as coisas com outra cor), apostar nas invejas entre “novos” e “velhos” e, se necessário, aparecer em público com ar compungido e “boas intenções”. Claro que ainda pode encenar uma vaga de fundo e um “abaixo assinado” alinhavado pelo seu gabinete e seguir em frente, como se nada fosse e ainda colher a simpatia de muita comunicação social. Mas, ontem, teve de aparecer e dizer umas coisas, obrigar o seu secretário a preencher uns espaços e, no final a fazer um exercício de hipocrisia demagógica acerca da sua crença na bondade natural das pessoas, a menos que sejam professores a pedir mobilidade por doença. Para ele, os directores são todos honestos e ninguém é corrupto, mas para os professores que ele acha que fingem estar doentinhos mandam-se juntas médicas, que é para avaliar devidamente se são corruptos ou não. Aos milhares. O ministro Costa é um mau fingidor, mas um óptimo seguidor das políticas da “reitora”. A diferença é no “tom”, aquilo que se criticou muito à doutora Maria de Lurdes. Sempre se disse que era óptima, mas muito tensa e conflituosa. Que só por isso não foi devidamente compreendida. Então, o ministro Costa é delicodoce, faz aquela ar de seminarista perdido na floresta, enquanto apresenta políticas que vão bem além de qualquer troika e não me venham com conversas dos tempos do Crato, que isto ainda é pior e nem sequer há qualquer intervenção externa a justificá-lo. É mesmo a “transnacionalização” da “boa governança” financeira. A culpa não é de nenhum centeno, leão ou medina. É mesmo convicção dele, não assumida de forma clara, que os professores “velhos” são para extinguir e os “novos” para criar sem memórias.

Este parece ser um texto muito ad hominem? Sim, ao menos que assuma ser um homenzinho e não se ande sempre a esconder atrás de desculpas e vitimizações, atirando para as “redes sociais” a culpa por tudo o que não lhe corre de feição.

(uma última coisa… que tal voltarem a arranjar uma identidade de mail falsa para oferecer “segredos” de um tipo que só interessaria a quem tenha falta de carácter parecida à de quem imagina tal estratagema?)

A Ler (Muitas Vezes)

Sobre o queixinhas hipócrita João, ministro Costa, por desdita nossa. Texto poderoso, com muita memória não selectiva, da Maria do Carmo Vieira.

Do fingimento à mais profunda hipocrisia: três histórias recentes

Como se revela o fingimento, intimamente ligado à mais profunda hipocrisia e falta de respeito pelo Outro? São três as histórias que contarei a esse propósito.

(… ) Foi a Reforma de 2003, cujo espírito perdura, e na qual o professor João Costa (Associação Portuguesa de Linguística – APL) interveio arduamente, em parceria com a APP, e depois no Ministério da Educação, que ditou o descrédito relativamente às Humanidades, situação que se tem vindo a prolongar até aos nossos dias, tendo dado azo ao esvaziamento de programas e à quase destruição das disciplinas de Filosofia, de Geografia, de História e obviamente de Português. João Costa, a par de muitos outros ministros da educação, tem sido efectivamente um fervoroso adepto do colapso das referidas matérias, mas agora tenta dar uma imagem contrária. Imitando, sem brilho, António Damásio que afirmou “A matemática e as ciências não fazem cidadãos”, na Conferência da Unesco, em Lisboa, (Março 2006), João Costa referiu no seu discurso que “As grandes conquistas da humanidade não se fizeram com cálculos financeiros”, aconselhando ainda, e fingidamente condoído, a “não deixarmos o mundo nas mãos de quem para tudo faz contas e de quem para tudo desumaniza”. Ter-se-á esquecido da perseguição que instaurou aos professores alterando o Regime de Mobilidade por Doença e das consequências daí advenientes?