Indisciplina(s)

Nos 3500 caracteres do artigo que acompanha esta peça da edição em papel do DN de hoje muita coisa ficou necessariamente de fora. Para além do que lá escrevo e do que a própria notícia refere (a importância da redução do número máximo de alunos por turma) gostaria de deixar ainda mais umas três notas sobre o tema da prevenção da indisciplina e da gestão dos conflitos na sala de aula e no espaço escolar:

Mega-agrupamentos: o sobredimensionamento das “unidades de gestão” escolar quebrou em muitas zonas uma relação de proximidade entre os órgãos de gestão e o quotidiano das salas de aula, em especial quando todas as decisões passam por um único centro, na escola-sede, retirando às restantes escolas (do 1º ciclo, mas também das de 2º/3º quando a sede é uma Secundária) a capacidade de intervenção rápida e a visibilidade de quem é responsável pela gestão destas matérias. Não estranho, por isso, algum acréscimo de situações de indisciplina em escolas já de si problemáticas a quem foi retirado um centro autónomo de decisão nestas matérias. A desumanização das relações pessoais e pedagógicas também passa por aqui e tem consequências a curto/médio prazo.

Envolvimento dos pares: é indispensável que se envolvam de forma activa os alunos na prevenção e gestão das situações de indisciplina, ao nível da escola, do ciclo ou ano de escolaridade e da turma. A existência formal de delegados de turma nada resolve se nada passar de um atributo esvaziado de conteúdo ou atribuído de forma acrítica a alunos sem influência sobre os colegas. Para além disso, é necessário que s órgãos de gestão das escolas, as chefias intermédias com atribuições em matérias disciplinares ou os directores de turma (se) envolvam directamente (com) representantes dos alunos, transferindo-lhes, em especial a partir do 3º ciclo, algumas responsabilidades neste campo.

Cultura de escola: conheci directamente um dezena de escolas nos meus primeiros 15 anos de docência e muitas mais de forma indirecta ou em visita ocasional nos últimos anos e confirmei o que todos sabemos: há formas muito diversas de gerir a indisciplina, desde as escolas que conseguem estratégias eficazes para a reduzir até ás que preferem cosmetizar estatísticas, limitando muito a acção disciplinar mesmo quando esta se justifica. Há escolas de linha dura e escolas fofinhas. umas conseguem os seus intentos e criam uma óptimo clima de escola através de uma cultura (mais ou menos rigorosa, mas sempre clara e sem subterfúgios) de escola positiva, participativa e segura, onde todos os elementos da comunidade educativa sabem os seus papéis, responsabilidades e consequências para a quebra das regras; outras perdem-se em devaneios ou indecisões, provocam insegurança em professores e alunos e podem mesmo suscitar uma cultura laxista onde cresce a sensação de impunidade. Também aqui, como individualmente com os professores, é necessária uma partilha de experiências, transparente, sem demasiadas obsessões com a imagem transmitida, visando perceber o que funciona em contextos aproximados. Sem pavoneios de uns ou o receio de exposição de outros, para não acabarem todos em declarações do tipo na minha escola não há problemas disciplinares. Ficando uns a falar interminavelmente e outros a nada ouvir, mesmo o que pode ser relevante.

Calvindancing

 

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