O Que Está Na Ordem Do Dia

A superioridade moral dos que “nesta vida” (cito um comentador no meu mural do fbook), procuram “soluções” e recusam colocar “problemas”. Está na ordem do dia um certo grupo colocar-se em bicos de pés, como se estivesse a salvar a Nação de qualquer coisa, afastando de forma complacente e usando os métodos que dizem criticar qualquer tipo de objecção. Lêem as mais suaves críticas como ofensas imensas e reclamam pelas sugestões apresentadas há um mês, que não leram ou desprezaram. Insistem em apresentar como “novo paradigma”, o que são metodologias requentadas em tempos de crise. E eu estou farto dessa conversa da treta, em que por “trabalho colaborativo” entendem alinhamento acrítico nas “soluções” saídas de uma profissionalização dos anos 90 do século passado, com mais ou menos vídeo-coisas. Há pessoal que insiste em confundir a novidade do meio, com novidade da mensagem ou do método. Criticam as aulas “antiquadas”, em que os professores falam para os alunos e depois substituem-nas por aulas em que falam para os alunos através de webcams. Há quem não seja capaz de perceber o que é realmente uma inovação (e não recuperação de coisas dos anos 60 e 70 do século XX ou mesmo anteriores), mesmo que ela lhe bata na testa em forma de bigorna digital. Mais grave, quem continue com a mentalidade burrocrática dos labirintos processuais e de representação administrativa de sempre, mesmo que envernizada com termos como “paradigma”.

Phosga-se!

Que fartura de auto-satisfações.

Vão-se encher de moscas.

Façam como os outros… pelos corredores arranjem forma de serem recompensados com isenção de quotas e sejam todos excelentes.

Pudesse eu decidir e havia malta que, de tanta boa vontade e sentido de “dever para com os alunos”,  levava com uma enxurrada de comendas (virtuais, claro) no 10 de Junho.

Haddock

(há problemas óbvios com algumas plataformas? é alarmismo! chama-se a atenção para o erro que será pensar numa avaliação equitativa nestes moldes? as desigualdades sempre existiram! o currículo da nova telescola é esquelético? o que é que querem, fariam melhor?… enquanto as reacções forem deste calibre, percebe-se que o diálogo com visões diferentes das coisas é profundamente indesejado. as sebentas saíram do arquivo… têm a resposta certa e sebastiânica para tudo…)

6 opiniões sobre “O Que Está Na Ordem Do Dia

  1. Continua a surpreender-me a pachorra que tu tens para responder a estes insectos digitais. O sapato afiado para matar baratas nos cantos da casa continua a ser um bom método. Vai por mim!

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  2. Eu, mãe, RECUSO-ME. Eu, mãe de dois filhos pequenos, trabalhadora, decidi DESISTIR hoje do ENSINO À DISTÂNCIA.

    Este texto não é para os pais que sentem que o ensino à distância, nos moldes em que lhes está a ser apresentado neste momento, está a funcionar lindamente. Este texto não é para os que conciliam perfeitamente teletrabalho, tarefas domésticas, gestão de vários filhos e sanidade mental.
    Este texto não é para dizer que eu tenho razão. Este texto não é para desvalorizar o empenho extraordinário de imensos professores nesta época que vivemos. Este texto não é para criticar destrutivamente a telescola, as plataformas ou o zoom. Este texto não é uma competição parental para dizer que eu sou melhor ou pior mãe que as outras ou que os meus filhos são melhores ou piores que os vossos. Este texto não é, assim, para despoletar trocas argumentativas do que é que está certo ou errado. Todos temos crianças em idades diferentes, com autonomias diferentes, com ambientes familiares diferentes, com recursos diferentes, com pais que têm prioridades e formas de estar na vida diferentes.

    Assim, este texto é para ajudar pais que hoje ou noutro dia qualquer anterior, sentiram o mesmo que eu. É para lhes dar força para fazerem aquilo que dentro deles sentem que está certo, tal como eu hoje decidi fazer o que sei no meu coração que está certo. Que deram por eles com a sensação de que isto não está a fazer sentido nenhum e que não querem, não conseguem fazer parte disto.

    Até hoje eu estava a ser colaborante com o que era enviado pela escola. Os professores do meu filho do 1ºano (titular e AECs) têm sido incansáveis a relembrar que percebem perfeitamente as circunstâncias actuais e que só fazemos aquilo que conseguimos. Foi isso que fiz e embora me causasse algum stresse ver os emails de diferentes disciplinas a entrar e não exigir de mim mesma cumprir tudo, fui selecionando o que me pareceu mais relevante. Meti na cabeça que o importante era manter a serenidade familiar e que as aprendizagens do meu filho seriam ao nosso ritmo. Ele só há pouco começou a escola mas tem sido um excelente aluno, não me tem causado uma única preocupação na escola e portanto seriam apenas uns meses a fazer o que me fosse possível junto dele, mesmo não concordando com nada disto. Mesmo estando certa e convicta de que era importante parar. De que era importante deixarmos os pais respirarem. De que as crianças não deixam de evoluir por estarem uns meses sem conteúdos curriculares. De que estamos no meio de uma pandemia que nos diz que o mundo está quase parado mas que a regra continua a ser a de produzir a todo o custo, crianças incluídas. Não interessa como, de que forma. Não interessa se é útil. Interessa mostrar trabalho. Interessa o “the show must go on”.

    Mas forcei-me. Insisti. Dei por mim meia perdida nas plataformas. Dei por mim a fazer uma gestão de separação entre os trabalhos de Português, Estudo do meio, Matemática, expressão plástica, educação física e educação musical. Dei por mim a fazer malabarismo entre os emails de pacientes, os emails da escola, as tarefas da casa e as constantes solicitações da mais nova enquanto o irmão fazia os trabalhos. Dei por mim a achar que até estava a correr bem, que conseguia organizar-me.

    Sucede que hoje surgiu a novidade da telescola. Surgiram também novas indicações. Mais sites, mais links em articulação com a telescola. Agora seria mais uma frente. Para além das propostas via email, tínhamos também as fichas para descarregar dos conteúdos apresentados na telescola. O site entupido. Uma hora para imprimir uma ficha. Vou ao email e nesse espaço de tempo recebo três emails de diferentes trabalhos de expressão plástica. O 25 de Abril, o dia da Mãe e outro qualquer. Recebo também a indicação da ficha de matemática do manual para o dia de hoje.

    Começo a sentir-me assoberbada, o cortisol a subir. Nisto passa uma manhã inteira e sinto que não fiz nada de jeito com eles. Entretanto há o almoço para preparar. Entro em piloto automático, até que decido parar. Respirar. O meu corpo começa a dar-me as respostas. O meu corpo começa a dizer-me que não se vai sujeitar a isto e que consequentemente não vai sujeitar os seus filhos a isto. O meu corpo decide. Sem saber bem quais as consequências, sem saber a reacção dos professores mas o meu corpo decide que não vou continuar nesta máquina. Que vou sair dela. Que já saí, que já saltei.

    Peço à professora do meu filho para falar com ela por telefone quando for possível. A resposta foi rápida. Falámos bastante tempo, trocámos uma série de ideias sobre os tempos que vivemos e eu comuniquei-lhe calmamente a minha decisão. Ela foi, mais uma vez fantástica. O meu filho tem muita sorte e só desejo que mantenha esta professora até ao fim do ciclo.

    Portanto, a partir de hoje, acabaram-se os emails das propostas diárias. A partir de hoje acabaram os links de articulação aos conteúdos da telescola. A partir de hoje acabou-se a gestão das disciplinas nas plataformas e o tempo enorme que perco a selecionar, visualizar, imprimir conteúdos sem grande relação entre si. A partir de hoje sou eu que vou ensinar o meu filho e dar continuidade, com aquilo que sei, consigo e posso, ao trabalho que a escola fez até esta ter fechado e assim será até esta reabrir.

    Posso usar os manuais da escola para me orientar, posso dar-lhe fichas, posso manter alguns métodos mais tradicionais. Mas também posso decidir que naquele dia vamos à prateleira buscar um livro à escolha dele e explorá-lo à nossa vontade. Posso decidir não imprimir o desenho do dia da mãe e fazer plasticina. Posso decidir não ter tudo programado, posso não fazer absolutamente nada de planeado quando tenho mais trabalho ou estou mais cansada e deixar que brinquem livremente.
    Cortei hoje pela raiz porque não me basta dizerem-me que faço aquilo que posso. Não dá para me dizerem que só faço o que posso quando não consigo deixar de ver tudo o que está a ser solicitado.

    Pela minha sanidade mental, e pela deles, preciso de sentir total liberdade para estar disponível para os meus filhos, para cumprir rotinas básicas do quotidiano e para atender os meus pacientes. Libertei-me do planeamento da escola e isso por si só dá-me espaço para ser criativa com eles no tempo e capacidade que tenho.
    O meu filho terá 12 anos de escola. Estes meses serão igual a zero na evolução de conteúdos escolares na soma dos anos. Mas não serão igual a zero no rumo que senti que isto ia tomar na minha realidade pessoal. Alguns meses de inferno são suficientes para perdurar demasiado tempo na nossa dinâmica familiar.

    Hoje rasguei a ficha da “mosca fosca” da telescola, livro que temos e que eles adoram mas que simbolicamente metemos hoje de lado e fomos buscar outro livro, fomos buscar o scrabble e andámos a fazer palavras com as peças. Hoje apeteceu-nos fazer yoga do livro do tubarão apaixonado e hoje a mãe deles ficou aliviada porque sente que tomou a decisão certa.
    A professora continuará a saber de nós estes meses, continuará a saber o que vamos fazendo, mas ao contrário.

    Volto a dizer. Este texto não é para quem sente que está tudo bem (se está, continuem!) nem para dizer o que está certo ou errado. Este texto é para partilhar o que eu sinto que está certo para mim e para os meus filhos e para empoderar pais que estão a precisar de parar. Vocês podem parar. Vocês podem dizer não. Vocês podem recusar-se. Vocês podem sair desse filme em que se sentem engolidos por decisões governamentais formatadas e sem olhar para as diferentes realidades familiares. Vocês podem sentir que não estão a falhar em todo o lado. Na escola, no trabalho, nas refeições. Vocês podem libertar-se. Vocês podem decidir com base no que sentem estar certo e não com base no medo. Medo de ser diferente. Medo dos filhos não evoluírem. Medo de não cumprir.

    Ouçam-se e decidam. Eu já decidi. Amanhã trabalho o dia todo e os meus filhos vão para casa do pai, que tem estado a trabalhar fora de casa a tempo inteiro, brincar. Sim, amanhã vão apenas brincar com pai! E na quarta-feira, eu logo decido. Temos até Setembro para aprender. Temos até Setembro para não fingir que temos uma escola em casa.

    Ana Dias

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  3. É ignóbil que os vídeos como o que Pretor publicou neste post, continuem por aí, e mais aparecerão até 26 de Junho se os professores deixarem e, de imediato, não desligarem ou saírem da “sala de aula”. Não quero estar na pele dos professores que foram filmados, humilhados, completamente sem saber o que fazer e sem saber o que lhes está a suceder. Se dentro da sala de aula a violência psicológica já era a que se sabia, agora fico estupefacta que nem mesmo os professores se queixem com esta afronta, em nome de uma sacrossantas aulas síncronas. O tal red, qualquer-coisa, aparentemente chegou a acordo com a polícia para deletar na net estes seus vídeos. Nota-se. Fora os que por aí devem pulular. Só por isso, não tenho a menor paciência para as alminhas professoras que quase insultam os que recusam a estonteante nova vaga de salvar a miudagem e de terem saudades dos meninos, convictas que estão, estas almas tresmalhadas, de que vão salvar o mundo.

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    1. Os vídeos continuam e vão continuar, infelizmente para os professores e alguns dos alunos envolvidos.
      Creio que os colegas continuam a receber, tal como eu, aquelas informações sobre as regras de segurança a observar no uso das plataformas de videoconferência. Os iluminados que as produzem continuam a afirmar, entre outras pérolas, que se deve desativar a possibilidade de gravação das sessões.
      Até aqui desculpava-se, porque se tratava apenas de ignorância. Mas depois de tanta gente ter ajudado a esclarecer, não é que alguns burros (agora já não são ignorantes, são burros mesmo) continuam a fazer de conta que não sabem que tudo o que se passa num écran pode ser gravado sem qualquer pedido de autorização, porque se trata do computador de cada um? A única diferença é ser publicado online ou não, as imagens continuam e vão continuar por aí e alguns alunos continuam e vão continuar a divertir-se com isto.

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