E se Deixarmos de Escolher Manuais Obrigatórios?

Será que o duopólio reinante no mercado dos manuais escolares já pensou nisso, com a sua ameaça de aumento de preços? Exista a coragem de eliminar os entraves à não adopção de manuais de forma obrigatória por todos os professores de quase todas as disciplinas e isto começa a equilibrar-se em termos de ameaças. Por mim, as plataformas digitais das escolas, os moodles, as salas de estudo, etc, etc, podem substituir bem a parafernália de materiais auxiliares oficiais. Só que… por vezes… a preguiça, a inércia e o cansaço falam mais alto.

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14 opiniões sobre “E se Deixarmos de Escolher Manuais Obrigatórios?

    1. Parte positiva: legitimar-se-ia mais tempo para o trabalho individual dos docentes do básico e secundário (os do superior já têm tempo a rodos para “investigar”).

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  1. Concordo inteiramente. Seria fastidioso estar aqui a descrever a minha experiência, que já vem dos idos dos anos 70, quando comecei a lecionar disciplinas em que não havia manuais, ou os que existiam de pouco serviam.

    Nos últimos anos, se pensar bem, raramente pedi aos alunos para trazerem os manuais. Mesmo os livros de exercícios, na sua maioria, não me agradam.Acho o tipo de tarefas que propõem muito conservador e fastidioso. Sigo a ordem do manual, para não atrapalhar, mas costumo dizer-lhes que aquilo serve essencialmente para estudarem fora das aulas. Prefiro elaborar os meus próprios materiais, quer audiovisuais, quer scripto. Nas áreas da Economia e das outras ciências sociais um manual fica rapidamente datado. E todos os dias aparecem nos “media” conteúdos que podem ser utilizados com maior eficácia.Se reunisse tudo o que fiz, talvez estivesse próximo de ter um manual. O problema é que estou sempre a “saltar” de programa para programa. É raro conseguir dar o mesmo durante dois anos seguidos. Pelas minhas contas, já devo ter lecionado mais de setenta programas diferentes, em pouco mais de 30 anos de serviço

    Há quem aponte como solução possível os manuais “wiki”. Diz-se que existem alguns que são utilizados por professores de algumas áreas em vez dos das editoras. Creio que ainda é uma prática limitada: o único caso que conheci foi o de Geometria Descritiva, numa escola onde estive recentemente. Também me falaram de outros de Contabilidade e Práticas Administrativas (parece que não tão elaborados) E entende-se porquê: trata-se de matérias que não implicam atualizações frequentes nem colocam problemas de direitos de autor pela utilização de textos, imagens e materiais audiovisuais.

    Nas ciências sociais o caso é diferente. Mesmo um manual “wiki” tem custos em dinheiro e um calvário (que as editoras, evidentemente, sabem bem percorrer) de pedidos e notificações por causa dos direitos de autor. Estamos habituados a usar, nas aulas, imagens e outras coisas que vamos buscar à net, sem nos preocuparmos com isso. Mas existe. E, a partir do momento que existisse um manual que pudesse ser largamente utilizado, alguém viria bater à porta. Só se os materiais fossem todos rigorosamente elaborados pelos autores. O que pode não ser viável em muitas disciplinas (línguas, História, Geografia…).

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    1. Nas Ciências Sociais há muitas imagens que são do domínio público. O resto, pelo menos em História, consegue produzir-se, pelo menos com um grupo pequeno de pessoas, com alguma facilidade, assim exista a vontade.

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  2. Grande malha… sou absolutamente a favor da não escolha do manual escolar… e acrescento um bocado ao lado: com uma pequena parte do dinheiro que gastam nessas coisas as famílias dos alunos poderiam fazer, ao longo dos anos, uma bela biblioteca … com valor literário, académico e científico… e p’rá “bida”!

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    1. Sem dúvida. Durante os seus percursos escolares, os alunos (as famílias) fartam-se de comprar gramáticas e dicionários. Quantas(os) delas(es) terão qualidade suficiente para serem usados na vida adulta.

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  3. Acrescentaria: parte do valor gasto em manuais, diria metade dele, seria alocado ao acréscimo de custos decorrentes da produção de materiais pelos professores/escolas.

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  4. A educação não é “cosa mentale”, mas de manual. Há muito que os professores deixaram de ser intelectuais. São aplicadores de manuais. Preenchem grelhas. Fazem registos. Coligem evidências. Reúnem-se mais do que os coelhos copulam. Infernizam a vida dos colegas. Acarinham a indisciplina da mocidade. Levam a ponta da língua a viajar até ao intestino grosso do Sr. Director e de tudo quanto é tiranete. E, como o dono da tabacaria, sorriem.

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  5. Concordo a 100%, embora perceba que isso exigiria mais trabalho aos professores, de certa maneira. Embora também ache que poderia ser intelecualmente mais estimulante. Pelo menos poderia haver essa opção, os professores que quissessem usariam o manual, os outros não.

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  6. Adorei o comentário onde é dito “Hummm, era preciso ter muito mais tempo não letivo, mas mesmo muito, para prepararmos materiais para as aulas.”, certeiro.

    Lecciono uma disciplina onde não há manuais (nem sequer programas, ahahaha!!!) e somos nós, professores, que elaboramos grelhas progressivas de conteúdos, programas, materiais didácticos, etc..
    Não temos nada na componente lectiva para tal e ainda somos presenteados com a possibilidade de termos 12 níveis diferentes para preparar (e respectivos materiais), desde o 1.º ano de escolaridade ao 12.º ano, o que se tem agravado com o aumento da carga horária e com a eliminação de reduções nocturnas.

    Uma das consequências desta carga lectiva é a qualidade com que se preparam as aulas e a disponibilidade que existe. Eu lamento dizê-lo, mas eu noto (e não gosto nada!) da diferença. Quando existiam reduções nocturnas, eu dava e preparava as aulas de outra maneira. Agora, com mais idade do que tinha – isto é que eles não conseguiram mudar -, há mais trabalho para fazer e menos tempo. Naturalmente, haverá menos qualidade, porque os dias continuam a ter 24h.

    Mas os responsáveis, que se dizem preocupadíssimos com jovens e crianças, almejam a dar-lhes lixo requentado e pretendem amesquinhar-nos até ao ponto de nós nos esquecermos disso, ou que façamos de conta que não vemos.

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