Quem Diria que Ainda Teríamos Saudades das Vagas Para Titular?

Mais um evento contribuinte da degradação profissional

 

Não quero pensar no assunto porque senão fico muito alterada psicologicamente”. Esta é atitude psicológica defensiva mais frequente que os/as profs estão a utilizar para enfrentar a GIGANTESCA injustiça que foi e está a ser feita na carreira profissional. E o contexto da afirmação está relacionado com a impossibilidade efetiva de milhares de profs. jamais progredirem na carreira remuneratória para além de um determinado escalão (que na contabilidade mais otimista, não será acima do 6º escalão). Com o anúncio de:
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– 133 vagas(!) para o acesso ao 5º escalão e 195(!) para o 7º escalão (em 2018),
 que há 14 mil professores no 4.º escalão à espera de transitar para o 5.º e 8 mil parados no 6.º escalão (janeiro 2018- jornal Público, dados do governo), e pressupondo que anualmente o número de vagas disponível é aproximadamente constante, com uma operação matemática simples é fácil constatar que muitos milhares de profs. vão atingir a (teórica) idade da reforma ainda ‘estacionados’ no 4º ou 6º escalões…!
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A GIGANTESCA injustiça verifica-se porque existem grupos de profs. que passaram incólumes pela tormenta, chegando aos escalões acima do 7º, e outros que lhes foi coartada definitivamente essa possibilidade. Uma primeira consequência será o aumento de crispação nas escolas, promovendo a divisão entre os profissionais (que beneficia o ME em termos negociais) porque os profs prejudicados terão menos motivação e consequente disponibilidade para assegurar determinadas tarefas escolares, pressionando os profs com salários mais altos a assumir essas tarefas (a maior salário corresponde mais trabalho, o principio do capitalismo…). Outras consequências na escola mais subtis podem-se revelar no zelo do desempenho, disponibilidade para voluntarismo, qualidade e quantidade de atividades, maior conflitualidade com a comissão de avaliação de desempenho (que determina os percentis das classificações ‘Muito Bom’ e ‘Excelente’ que permitem ficar isento da dependência de vagas para acesso aos escalões), menos investimento na formação profissional (redução nos custos na aquisição de materiais didáticos, tecnologia, bibliografia, etc.) ou pessoais, como na diminuição do poder de compra e respetiva qualidade de vida e valor da pensão de reforma (caso ainda exista…).
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O que está garantido, é que tal como aconteceu em 2008, ainda vai piorar mais a dinâmica ambiental escolar, o que resulta na diminuição do trabalho colaborativo e numa menor (e pior) capacidade de resposta da instituição.
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Mário Silva
Nutty

45 opiniões sobre “Quem Diria que Ainda Teríamos Saudades das Vagas Para Titular?

  1. “A GIGANTESCA injustiça verifica-se porque existem grupos de profs. que passaram incólumes pela tormenta, chegando aos escalões acima do 7º”

    Tenho de confessar que me irrita solenemente esta visão dos que passaram ” incólumes pela tormenta”.

    Teria algo a escrever sobre isto mas seria algo longo e nada politicamente correcto. Ademais, seria um registo muito pessoal feito de opçôes tomadas e nada fáceis.

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  2. Nada pior,nada mais revoltante .
    Uma classe profissional ser sujeita a tanta mentira,tanto jogo,tanta ilusão.
    Vem aí novo dividir para reinar .
    Tudo isto é um nojo !
    Imagino o ambiente escolar.

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  3. Nada mais correto. Todos nós sabemos que os mais graduados ,por norma , terão melhores horários e turmas e menos responsabilidades. A julgar pela minha escola, o último do grupo é o DT,o coordenador do curso profissional, orientar de estágio e responsável pelas PAP`s dos alunos no final do 12 ano.
    Quanto se confronta a Direção a resposta é: ” não queres ter um horário? ” .

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    1. É o miserabilismo acéfalo, potenciado à exaustão pelos comissários políticos nas escolas.
      Por que pensa que esta gente não toca nem tocará no modelo de gestão das escolas?
      Compraram os ditos com o 10º escalão, por decreto, com um aumento de 100%, e agora basta mandar ladrar que eles correm logo a morder.

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  4. Há injustiças ainda mais estranhas. Conheço o caso de dois colegas que tiraram o mesmo mestrado, na mesma altura (2001 ou 2002), na mesma faculdade, etc. A um deles correspondeu a bonificação, ao outro não! Razão para este disparate obviamente inconstitucional, um tirou o mestrado como professor do quadro o outro não!!!! Os sindicatos apoiam esta visão!!! Inacreditável!

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    1. A mim aplicaram na bonificação do doutoramento aquilo que acharam melhor, sem olhar a datas.

      Quanto ao post, no título tentei concentrar a tenção no nº de vagas.

      Quanto a comparações, podem existir para todos os gostos.

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      1. Pois. É, então, legítimo perguntar se estamos num Estado Informal onde as decisões são tomadas com base nos interesses pessoais das pessoas que estão nos postos de comando……………. Pois, num Estado de Direito, existe o Direito… E as regras para a bonificação do Art. 54.º estão definidas…[pensei, ainda dos tempos do blog O Meu Umbigo, que nunca tivesse tido a aplicação do Art. 54 pelo Dout]… Bom, a mim, o que me estão a fazer é o seguinte: tendo exactamente o mesmo Dout (FLUP, anterior ao Processo de Bolonha) da colega que exerce as funções de coordenadora da Ciberescola (Ana Cristina Sousa Martins), estou abrangida pelo Art. 12.º da Portaria 344/ 2008. Mas, altos dirigentes dos serviços centrais do ME dizem que o Dout nunca foi reconhecido para efeitos de aplicação do Art. 54 do ECD. Após, todos os Recursos Hierárquicos submetidos, tive que pedir a prova documental à CADA (Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos/ Ass Rep), porque a mesma foi-me constantemente sonegada e omitida…. Agora, com a prova documental, i.e., o Despacho de aplicação do Art. 54 do ECD (emitido pelo próprio ME!) à colega coordenadora da ciberescola, apresentei uma petição à Assembleia da República…

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    2. Pois, já não há leis nenhumas……………. Será que existe um regime de APARTHEID para os professores? Uns funcionários públicos tiveram descongelamento nas carreiras, os professores não…. e até a mesma lei é válida para uns professores e para outros não……….. numas escolas afixam a lista graduada de antiguidade e noutras não, porque o director já disse que não afixa e pronto…… este é o Estado de Direito, não é? até já apresentei uma petição à AR com o resultado “arquivamento” http://app.parlamento.pt/webutils/docs/doc.pdf?path=6148523063446f764c324679626d56304c334e706447567a4c31684a53556c4d5a5763765130394e4c7a684452554d765247396a6457316c626e52766331426c64476c6a595738764e4759794d7a52694e475974597a457a4e7930304d6d51354c5467345a444574596a41334e6a46695a5463784e4464684c6e426b5a673d3d&fich=4f234b4f-c137-42d9-88d1-b0761be7147a.pdf&Inline=true

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  5. A classe profissional com maior formação deste país que até está na moda, continua a dar cartas e a indicar o caminho: Quem está mal é o pessoal dos escalões mais altos; não os dos escalões mais baixos. Brilhante!
    O título alternativo deste comentário também poderia ser: “Os anões atacam de novo.”

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    1. O raciocínio, se estivesse bem construído, até podia ser uma falácia, assim é apenas insultuoso, na forma para si, no conteúdo para os seus colegas anões.
      Nota: já agora, ninguém pretende retrocessos, apenas equidade. No entanto perceber isto parece não estar ao seu alcance.

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    1. É como a pensão de reforma na magistratura: existe a jubilação e a aposentação (algo semelhante nos militares: passagem à reserva e aposentação). Na jubilação, recebem o valor correspondente ao salário que auferiam e mantêm regalias (subsidio de residência, por exemplo); contudo mantêm disponibilidade para serem chamados ao trabalho (o que virtualmente não acontece). Na aposentação recebem o valor com base no cálculo dos anos de desconto e sem regalias.
      A mediocridade é exigir a extinção da jubilação mas o inteligente é exigir a mesma jubilação para todos os que trabalham…

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  6. Há um elefante na sala que não se falava nele mas vai começar a aparecer: é que ser mais velho é relativo no modelo demográfico atual. Sendo a média de idades dos profs de 40 e tal anos, isto significa que existem profs com 50 e tal que estão no 6º escalão ou acima e outros pouco menos velhos que ainda não ultrapassaram o 4º escalão e nem sequer têm redução de componente letiva. Inevitavelmente a comparação vai existir porque entre pessoas que executam a MESMA função, essas diferenças custam a suportar num ambiente em que a esperança foi eliminada. Tudo isto já começou em 2005 e sente-se que o limite está a ser atingido pelo grupo extenso que não vislumbra possibilidade de percorrer o caminho que outros percorreram.
    Não adianta indignação ‘dos mais velhos’ (?!) perante algo que vai acontecer tal como aconteceu em 2008 com a ideia ‘peregrina’ da categoria de prof. titular: crispação dentro da escola. E é natural que ocorra: quem é que com quase 50 anos, ainda a ‘marinar’ entre o 2º e 4º escalão, tem a motivação para assegurar horário completo sem artº79º, com 4 a 6 turmas, quase 200 alunos, que ainda lhe ‘espetam’ com DT e/ou coordenação pedagógica e/ou apoios pedagógicos? A tendência neste ambiente é obviamente exigir a aplicação do principio ‘quem ganha mais, que trabalhe mais’, o que é humanamente compreensível, embora desagradável a quem é dirigido esse principio.
    Como já escrevi noutro post (https://guinote.wordpress.com/2018/03/02/6a-feira-5/#comments), a curto prazo começará a ser questionada esta carreira remuneratória vertical, numa profissão em que o CONTEÚDO FUNCIONAL é o mesmo entre pessoas de idades diferentes, principalmente por todos aqueles que vão ficar no mar alto a ver ‘terra à vista’ ad eternum…

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    1. ‘”quem ganha mais, que trabalhe mais”

      Esta frase parece imbatível, na verdade. No entanto é demagógica e populista.

      1- o que é “trabalhar mais” e quem o define?

      2- nem tudo é igual.nem tudo é a mesma coisa. a democracia tem outra componente importante: a solidariedade. caso contrário, a população activa não estaria agora a descontar para os reformados e pensionistas. e a frase seria “quem está reformado que se vire, que eu não estou para pagar impostos pois posso não ter a reforma que mereço”. Olhem, trabalhem!

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      1. É o principio da economia de mercado capitalista. A dificuldade(?) em definir o que é ‘trabalhar mais’ é a mesma do que definir ‘ter mais mérito’. E no entanto, a meritocracia é um dos princípios muito propalados na sociedade moderna.

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      2. mario,

        “economia de mercado capitalista”?

        E agora vamos introduzir o “ter mais mérito” ?

        “Mas modificar a estrutura, será algo que tem de ser discutido.”

        (desde sempre a carreira foi vertical. concordo que algo tem de ser discutido mas atendendo a outras variáveis. e para quem ingressa na carreira. não a meio. como estamos acostumados. e não se esqueçam que está prevista uma greve. eu faço e estou no 10º escalão. e os outros?

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    2. 4 a 6 turmas? Tenho 51 anos, estou presa no 4º escalão e, nos últimos anos são-me sempre atribuídas 8 turmas de 3º ciclo. Repito: oito turmas de 3º ciclo. Mais de 200 alunos, na fase mais conturbada da sua existência. Tento sempre dar o meu melhor mas é evidente que o desgaste nas últimas turmas do dia é incomportável. Já me aconteceu descontrolar-me perante a turma e não conseguir evitar que as lágrimas me viessem aos olhos. A partir desse dia, se me sinto demasiado exausta, prefiro faltar à aula, com todos os inconvenientes que daí possam advir… Apetece-me dizer “C’est dur d’être prof”.

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