Só quem conhece os ritmos dos tempos escolares por dentro é que consegue entender verdadeiramente que um ano lectivo não pode, nem deve, começar a ser pensado a meio ou no final do 3º período do ano anterior, em especial em período de provas de aferição (as boas, que são as de agora), provas finais ou exames, para não falar em outras exigências de final de ano lectivo ou mesmo as questões de concursos e conexas. Há uma espécie de período mais calmo, ali por Janeiro-Fevereiro, até ao Carnaval, que é aquele em que existe alguma “respiração” para que as “novidades” cheguem, comecem a ser digeridas e preparadas com um tempo adequado a alguma ponderação e não na base do empurrão de última hora. Depois, beneficiando desse período, pode vir sim, a fase da “operacionalização” das mudanças.
Infelizmente, o tempo político e legislativo é praticamente imune a este tipo de considerações e produz diplomas quando calha, embora curiosamente com preferência para o final dos anos lectivos, a pior altura para o fazer. A preparação dos diplomas, os debates, a agenda e a propaganda política exigem um ritmo diferente ou apenas são indiferentes a tudo isso. As negociações com os grupos de pressão ou com os potenciais apoiantes na defesa das medidas são mais importantes do que o bom funcionamento das escolas e temos três tipos de produção legislativa desajustada no tempo: a torrencial (muda tudo de uma vez), a recorrente (a que muda quase todos os anos, como acontece com os programas) e a fora de tempo (atrasada, dificultando – talvez de forma voluntária? – a sua aplicação de um modo ponderado).
Um outro tempo, dizem, é o mediático, epidérmico, de curta duração, que empurra decisões na sequência de eventos singulares mas dramáticos ou com impacto na opinião pública. Um tempo que torna ainda mais complicada a tal “respiração” para que as medidas sejam, mais do que discutidas em circuitos fechados ou de sentido único, aplicadas após análise. Isso ainda acontece, não existindo episódio de violência numa escola ou um qualquer descalabro em instalações, para se “descobrir” pela enésima vez o problema da “indisciplina” ou da “falta de investimento”. Só que essa tendência para a fixação em epifenómenos se tem voltado a cruzar com uma função perversa de alguma comunicação social que é a de funcionar como caixa de ressonância e eco dos decisores, numa espécie de pacto renovado entre quem decide e quer ter boa imprensa e quem dá notícias e precisa da boa vontade das fontes oficiais. E voltámos a ter, após alguns anos de algum escrutínio crítico – e com óbvias excepções – a produção de notícias conforme a chegada dos dossiers temático-políticos das centrais de comunicação do governo ou ministérios, levando a um empobrecimento evidente do papel específico da comunicação social na análise de propostas ou decisões apresentadas como incontroversas, inadiáveis ou por demais evidentes.
As consequências de tudo isto: o reforço da sensação de isolamento das escolas e dos professores perante, não apenas a tutela por mais auditórios que encha com requisições à força de audiência por parte das amizades directivas convergentes, mas uma informação e opinião publicada cada vez mais distante do seu quotidiano ou então alinhada apenas pelo pensamento central unificado em torno da Educação como chata obrigação orçamental, enfeitada com pózinhos de perlimpimpim retirados do baú dos tesourinhos pedagógicos deprimentes.