Aparentemente, Rui Rio deve achar que o importante é que o seu camarada de direcção Feliciano terá sido tramado por outros camaradas de partido por ter sido divulgada a fantasia que é o seu currículo académico (e não só). Como muitos outros antes dele, dos quais se distingue apenas pela enorme presunção no seu próprio valor político. Rio parece não entender que o que é mesmo grave é ter ao seu lado um tipo que (alegadamente, claro) falsifica documentos e inventa cargos.
Pouco habituados a um verdadeiro escrutínio do que escrevem nos seus currículos, muitos políticos acham normal, desde aspirantes, elaborar currículos criativos, onde colocam o que não fizeram e apagam passagens menos claras do seu passado. Feliciano é apenas mais um, andam por aí muitos mais, só é pena que tal escrutínio não seja feito por ninguém, muito menos por quem faz vénias a coisas made in lá fora. Acreditem que sei do que escrevo, pois fui contemporâneo de muita gente que logo à saída da faculdade já tinha especializações que dariam para três carreiras, mas que ao mesmo tempo apagavam o trabalho de negro feito para obras alheias em troca de pagamentos de silêncio. Ou quem tivesse passado um par de meses por uma universidade de terceira linha nas américas para obter por cá uma equivalência a mestrado ou doutoramento em instituição de acolhimento muito favorável.
O Feliciano é apenas mais patusco. A sua tese/relatório é uma coisa aterradora a todos os níveis (e olhem que é a “versão definitiva 2”). E atenção que quem escreve isto é especialista em gralhas. Mas fazer uma coisa com uma centena de páginas com tão má qualidade de escrita e conteúdo é obra. Tentei isolar as passagens mais idiotas, do ponto de vista da sintaxe e da substância, mas percebi que seria tarefa acima do tempo que tenho disponível para parvoíces durante todo o ano. É aceder e ler, desde a epígrafe, o total descalabro que foi validado por um júri de gente que até é conhecida.
No entanto, a partir de uma referência do J. M. Tavares, dei com a passagem que não pode deixar de ser referida e que é a seguinte, na parte das actividades extra-profissionais:
“1.6.6 Município de Anfhn na província de Guijhou, China
Entre 2007 e 2011 foi Conselheiro Económico do município de Anfhn na província de
Guijhou, China.”
Ontem, no mural do JMT tentava-se perceber que sítio é este, se existe sequer. O mais perto que chegaram foi a um local chamado “Anshun”, mas nada indica que isto seja vagamente real. O resto é um currículo típico de uma aparelhista partidário que chega por duas vezes a secretário de Estado e mete o nariz em inúmeras instituições, como membro deste ou aquele corpo social e exibe isso em páginas de currículo como se fosse prova de qualquer valor acrescido.
Entre as páginas 28 e 34 da sua tese/relatório, o mestre Feliciano alinhava 100 artigos publicados na imprensa, sendo que todos são referenciados como estando na “p. 00-00”. Nem num único caso se refere a página exacta da publicação (ironicamente o artigo com o nº 6 tem o título de “Analfabetos e incultos tecnológicos”).
Na reflexão crítica sobre o seu percurso escreve este notável ex-governante:
No domínio da formação impõe-se que seja digno de registo que o ora mestrando, após a licenciatura, de forma teórica e prática, nas últimas mais de duas décadas procurou diversificar, a sua formação, nunca deixando de considerar a sua formação de base, enquanto licenciado em direito. A grande maioria das suas actividades formativas, estiveram associadas à ciência jurídica (umas mais do que outras é obvio), umas mais de caracter académico e cientifico, e outras nem tanto, como atesta o seu currículo e o seu DeGois. (p. 36)
E sobre a sua experiência profissional:
A experiencia profissional, do ora mestrando, nestes últimos mais de duas décadas, também foram muito díspares, com experiencias várias. Como jurista na condição de consultor jurídico, como professor universitário, como investigador e autor de vários livros jurídicos, como governante com responsabilidades na produção legislativa, como parlamentar e autor de vários pareceres, como conferencista, para além de muitas outras áreas profissionais. (p. 37)
A bibliografia é um gozo completo, pois o “autor” refere (p. 38) que vai seguir a Norma Portuguesa, mas depois ordena os autores pelo apelido até à letra F e pelo primeiro nome a partir da G.
Isto é muito mau. Mas há um orientador com o nome inscrito na página de rosto da tese/relatório que terá achado que isto poderia ser assim. E um júri que aprovou. A essa malta é que eu assacaria responsabilidades por qualquer tipo de “conspiração”.
(já agora… quem quiser e tiver tempo pode tentar verificar a que obra de Luc de Clapier pertence a citação que foi usada pelo mestre Feliciano; ficam aqui quase 600)
Pode-se vilipendiar prolixamente estas criaturas, mas o que realmente interessa é o pragmatismo chinês em que vivem: conseguem ocupar cargos que lhes dão o rendimento para viverem confortáveis, com mordomias, e têm sempre um lugar à espera (seja na economia pública ou privada). O resto do povo que vive nos padrões da ética, vive ‘à rasca’, sempre com o espectro do desemprego à espreita, sem garantias de lugar.
E o resto são ‘tretas’…
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Muito mau…
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E a citação do “ás”? Será o ás de trunfo? Na volta é um ás de trunfa…
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Repare-se na diversidade de formas com que a bibliografia é apresentada!!! E na pontuação e acentuação, é de bradar!! E quem orienta não se lhe faz luz? Não lê a “tese” e deteta estas coisas? E teve 18 valores, parece que!
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O então mestrando não teve sequer a dignidade de dar a tese a ler a alguém que lhe fizesse a revisão de texto?
Vírgula entre sujeito e predicado; vírgula entre predicado e complemento directo; falta de concordância entre sujeito e predicado…
Isto é que foi flexibilização!!
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Uma vergonha mas se forem ver os currículos dessa gentalha são mesmo fantasia, Aconselho que vejam e confirmem o de Pedro Alves do PSD e o de Helder Amaral do cds. Vão ter surpresas, Investiguem
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Não nos podemos queixar muito, pois somos todos culpados, eles só ocupam lugares no parlamento porque alguém votou neles, o povo português tem a memória curta, e aqueles que agora se queixam vão ser aqueles que daqui a uns anos os vão colocar lá novamente. Quando surge gente seria o que faz o povo, ignora, e continua a votar nos bem falantes e mentirosos.
Assim vai Portugal…
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Não é o meu caso. Em muitos casos de forma indesmentível, porque ao abster-me nem sequer escolhi o mal menor.
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