Não Me Choca Nada, Mas Não Me Parece Inovador, Antes Cobrindo Com Verniz E Purpurinas O Que Já Se Conhece

Vamos lá ler o que passa por ser uma grande novidade:

“O modelo, a implementar no próximo ano letivo, passa por não dar notas aos testes e outros instrumentos de avaliação dos alunos, tal como são conhecidas, mas por várias menções descritivas do seu desempenho em vários itens e em cada momento de avaliação, seja escrita ou oral, indicando onde pode melhorar o seu desempenho”, disse o presidente daquele Agrupamento de Escolas, que abarca cerca 200 professores e 1.900 alunos do pré-escolar ao 12º ano de escolaridade.

Ora bem… isto não é muito diferente de avaliar por domínios e subdomínios com uma escala qualitativa em vez de quantitativa.

Mas apresenta-se como sendo algo diferente.

Segundo Jorge Costa, este novo modelo representa uma “avaliação ao serviço da aprendizagem” e é o “tomar a dianteira” relativamente a “novos critérios de avaliação e outra forma de avaliar, ensinar e aprender”, num projeto idealizado e concebido no âmbito da autonomia de gestão pedagógica do Agrupamento de Escolas de Abrantes, no distrito de Santarém.

“É uma alteração significativa no modelo de avaliação”, notou, tendo referido que “o que se vai começar a avaliar são descritores, ou seja, as competências que um aluno consegue ter em cada domínio, em cada disciplina”, num modelo que privilegia o “caráter contínuo e sistemático” da avaliação.

Qual o problema? É que, em especial no Secundário, é necessário converter essa avaliação com base em descritores num valor de 0 a 20 e então como se fazem as coisas? Sim, o aluno não “carrega” com “uma nota negativa” mas, afinal, vai dar mais ao menos ao mesmo no final do processo/período/ano. E o “carácter contínuo e sistemático” da avaliação não depende do tipo de avaliação (descritores qualitativos sem classificação final/avaliação quantitativa por domínio com nota final), mas sim do diálogo estabelecido com os alunos.

Nesse sentido, acrescentou, “o aluno deixa de carregar com uma nota negativa e é avaliado por vários descritores ficando a saber onde pode melhorar o seu desempenho em cada domínio, através de uma classificação parcelar e não através de uma nota global“.

Para Jorge Costa, a mais valia do novo modelo “passa por colocar a avaliação ao serviço da aprendizagem e de conseguir arranjar uma estratégia” para a sua consecução, sendo apenas atribuídas notas de 0 a 20 no final de cada um dos três períodos letivos, para que, através da avaliação formativa, se chegue à avaliação sumativa, atribuída no 3º período letivo.

Pessoalmente, acho que este modelo é mais interessante para o Básico do que para o Secundário porque, podem achar que não, mas os alunos ficarão mais perdidos, enquanto não perceberem como se dará a conversão dos “descritores” em “valores”.

Compreendo a necessidade de apresentar como um enorme avanço o que é apenas uma demão de pintura na fachada, mas isso só engana quem não percebe que, no fundo, os procedimentos “novos” vão dar ao mesmo.

Ideia

8 opiniões sobre “Não Me Choca Nada, Mas Não Me Parece Inovador, Antes Cobrindo Com Verniz E Purpurinas O Que Já Se Conhece

  1. É qualquer coisa parecida com a “avaliação” usada na aferição: C, CM, RD, NC (mas vais lá chegar…). Ui. 🤨😔

    Um dia destes, quando tiver tempo – por este andar será lá para 2040 – , reinvento uma forma ‘inovadora’ de classificar (o verbo não é erro; avaliar é antigo e cria traumas diversos) os miúdos da minha escola. 😚

    Como daqui a pouco tenho de madrugar para ir fazer serviço grátis de secretariado de exames, termino dizendo que subscrevo na ÍNTEGRA o último parágrafo do post. 👍👏

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  2. Isto é cada um a procurar entrar na fotografia da inovação e da salvação da Educação.

    Pelo menos, vai haver surpresa total para os alunos relativamente à sua avaliação no final de cada período, pois ninguém vai saber quanto vale em «númaros». Os pais também vão gostar de andar à nora.

    O trauma, meu Deus, o trauma da avaliação, do arrastar uma nota.

    A disciplina de Português tem umas boas dezenas de descritores. Multiplicando isto por «n» disciplinas… o caos, Senhor, o caos!

    Como sempre digo, quem quer que tenha criado o Universo teve a inteligência de determinar que tudo tem um fim, ou seja, todos estes idiotas vão falecer, mais tarde ou mais cedo, e, obviamente, nem num rodapé do que quer que seja vão ficar.

    Note-se, ainda, que são sempre as luminárias que estão longe da sala de aula(s) que descobrem estes… vou poupar a nominalização e consequente adjetivação.

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  3. De “carregar com uma nota negativa?!!” Mas, então, carrega com o quê? Apenas com os eufemismos das descrições? Oh my God! Então, mas não carregamos todos nós com alguma coisa? A existência tem sempre esta ou aquela carga! A existência não é só feita de leveza! Se assim fosse, nós nem sequer estaríamos aqui a comentar as barbaridades destas políticas educativas!!!

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