Eu Vi O Futuro da Educação E Assustei-me (Um Pouquinho)

Está aqui, tem uma ficha técnica que merece exploração, quase tanta quanto a lista de constructs no final ou o plano de implementação (a apresentação por uma das colaboradoras nacionais é mais fofinha) É que em 2030 eu ainda nem cheguei à idade da reforma…

The list is not exhaustive but constructs are selected that are closely related to the key concepts underpinning the framework.

‒ Adaptability/ Flexibility/ Adjustment/ Agility
‒ Compassion
‒ Conflict resolution
‒ Creativity/ Creative thinking/ Inventive thinking
‒ Critical-thinking skills
‒ Curiosity
‒ Empathy
‒ Engagement/Communication skills/Collaboration skills
‒ Equality/ Equity
‒ Global mind-set
‒ Goal orientation and completion (e.g. grit, persistence)
‒ Gratitude
‒ Growth mind-set
‒ Hope
‒ Human dignity
‒ Identity/Spiritual identity
‒ Integrity
‒ Justice
‒ Manual skills for information and communication technology (related to learning strategies)
‒ Manual skills related to the arts and crafts, music, physical education skills needed for the future
‒ Meta-learning skills (including learning to learn skills)
‒ Mindfulness
‒ Motivation (e.g. to learn, to contribute to society)
‒ Open mind-set (to others, new ideas, new experiences)
‒ Perspective-taking and cognitive flexibility
‒ Pro-activeness
‒ Problem solving skills
‒ Purposefulness
‒ Reflective thinking/Evaluating/Monitoring
‒ Resilience/Stress resistance
‒ Respect (for self, others, including cultural diversity)
‒ Responsibility (including locus of control)
‒ Risk management
‒ Self-awareness/Self-regulation/Self-control
‒ Self-efficacy/Positive self-orientation
‒ Trust (in self, others, institutions)

Já perceberam que o tal Perfil de Competências para o século XXI ainda poderia ser pior?

Orgasm

Já Agora, O Que Se Pode Encontrar no Relatório da OCDE Sobre As Vantagens de Estender a Escolaridade em Termos de Emprego?

Há lá muita coisa e algo é adquirido… quem consegue mesmo emprego compatível com as suas habilitações ganha mais do que quem tiver menos anos de escolaridade. O problema é outro e relaciona-se muito com a incapacidade da própria economia absorver mão-de-obra qualificada, pelo que a probabilidade de emprego é praticamente a mesma tendo feito apenas o 12º ano ou um primeiro ciclo de estudos bolonheses (bacharelato, já que a licenciatura nem aparece).

OCDE2018 Emprego2

Reparem que o nível de emprego de quem fez apenas o 9º ano ou menos é dez pontos acima da média europeia (68% contra 58%) e treze acima dos 22 países europeus da OCDE (média de 55%), mantendo-se mais alta do que a média também para quem concluiu o 12º ano. Depois, começa a descer e fica em cima da média para quem fez estudos universitários.

Quanto à evolução entre 2007 e 2017 do nível de emprego, verifica-se que subiu 4 pontos para quem não seguiu estudos universitários (de 78% para 82%), mas apenas um ponto para quem os fez (de 85% para 86%). O que significa um fenómeno parcialmente paradoxal.

OCDE2018 Emprego

Tudo isto se relaciona ainda com as vantagens relativas de se seguirem estudos universitários em Portugal, por comparação a ficar apenas com o 12º ano.

OCDE2018 SalariosGeral

Nada disto levantou o mínimo interesse à comunicação social, embora esteja no mesmo relatório que traz os salários dos professores. Só que não aparecia no resumo. O resumo é que foi uma selecção “criteriosa” do que interessava à “actualidade”. Claro que aborsar outros temas pode levar a uma visão muito negativa para uma economia que dá escassas oportunidades aos trabalhadores qualificados que ou saem do país ou se submetem a salários comparativamente inferiores aos praticados em outras economias, para terem a mesma possibilidade de não ficarem no desemprego do que quem não seguiu estudos superiores. Temos um mercado de trabalho que privilegia mão-de-obra com baixas qualificações e salários baixos.

Mas sobre isto os daniéisbestas e outros “empreendedores” não escrevem. Porque não convém.

E Se…

… existirem elementos de prova que fundamentem factualmente um desmentido ao desmentido?

Ligações polémicas do Governo à OCDE

O atual secretário de Estado da Educação, João Costa, tem um cargo com poderes de decisão na OCDE, que avalia as políticas adotadas pelo Ministério da Educação. Governante foi eleito em julho de 2017 presidente do conselho dos peritos responsáveis pelo TALIS, um dos relatórios mais importantes que avalia as condições de trabalho e os salários dos professores.

(…)

Também o deputado do PS Ascenso Simões disse na sua página do Facebook que leu «atentamente» e «duas vezes» o relatório da OCDE sobre remunerações e tempos letivos dos professores e a conclusão a que chegou é simples: «Nada do que lá está bate certo».

Para Ascenso Simões os cálculos da OCDE resultaram do «encontro de uma média entre as carreiras do básico e secundário com as do ensino superior», acrescentando ainda que há erros também no que diz respeito ao horário de trabalho dos docentes. O relatório «não analisa as obrigações burocráticas a que os professores estão obrigados», exemplifica o deputado socialista.

Por isso, Ascenso Simões alerta que o «debate político deve seguir por oposição de argumentos», mas que «não podem ser usados instrumentos que não são sustentáveis».

fog

 

TALIS

A Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência é o organismo responsável pela condução do TALIS 2018 (Teaching and Learning International Survey) em Portugal. O TALIS 2018 é o terceiro inquérito da OCDE sobre ensino e aprendizagem, refletindo principalmente, sobre os ambientes de aprendizagem nas escolas e as condições de trabalho dos docentes. As duas primeiras edições ocorreram em 2008, com 24 países, e em 2013, com 34 países (posteriormente, em 2014, mais 4 países aderiram e aplicaram o inquérito). Devido ao seu sucesso e relevante contribuição para as políticas de desenvolvimento educativo nos países participantes, e o interesse demonstrado por outros países, foi decidido continuar a desenvolver o estudo, pelo que, com a coordenação da OCDE, será realizada a 3.ª edição – TALIS 2018.

(…)

O que é:

Os países participantes determinaram as políticas investigadas no TALIS. A edição de 2018 debruça-se sobre o contexto profissional do docente, as suas condições de trabalho e o impacto da escola na sua eficiência. O TALIS 2018 pesquisará:

Como é desenvolvido:

Em cada país, será selecionada uma amostra de escolas. Em cada uma serão, aleatoriamente, selecionados cerca de 20 professores, juntamente com o seu Diretor.

Quem vai ser inquirido:

Os questionários do TALIS destinam-se a:

A seleção das escolas e dos docentes que participam no estudo é realizada de forma aleatória. À exceção dos pequenos países, para o estudo principal, foi selecionada uma amostra de cerca de 200 escolas e de 20 docentes por escola em cada país.

TALIS

Pesquise-se!

Políticos no activo a presidir a órgãos “técnicos” que fazem a análise das suas próprias políticas? Sendo que antes de entrarem em cargos executivos ninguém lhes conhecia tal “capacidade” técnica? A OCDE funciona mesmo assim? Ou depende dos sectores? É mais complicado de perceber do que parece.

A notícia é do Sol de hoje:

sol_15_09_2018.jpg

O desmentido chegou célere, pelo facebook:

O Sol dá-me hoje destaque com uma notícia pejada de dados falsos e insinuações e que me tenta associar aos dados do Education at a Glance que geraram polémica esta semana a propósito da remuneração dos professores.
Impõem-se os esclarecimentos, todos eles prestados ao Sol, que deliberadamente os ignorou.

1. Não sou diretor de nada na OCDE.
2. Não presido a qualquer gabinete da OCDE.
3. Presido ao órgão que junta os decisores políticos e técnicos do TALIS – Teacher and Learning International Survey. Este órgão é constituído por representantes dos ministérios de 45 países. Tal como outros órgãos colegiais, o Presidente é nomeado e eleito entre os pares. Este e outros órgãos internacionais são presididos por ministros, vice-ministros, secretários de estado ou membros em sua representação.
4. O TALIS não é um relatório sobre carreiras e salários.
5. O TALIS é um inquérito respondido diretamente por professores e diretores sobre condições para o exercício da profissão docente: desenvolvimento profissional, ambiente, condições de trabalho, liderança, gestão, carreiras, etc.
6. O Education at a Glance é um relatório anual que não é produzido pelo TALIS, pelo que a tentativa de me associar a este estudo não tem qualquer fundo de verdade.

Não vou sublinhar alguns paradoxos do desmentido, nem o truque terminológico usado nos seus 3 primeiros pontos. Apenas referir que seria interessante encontrar a lista dos anteriores directores do TALIS, algo mais difícil do que parece, pois as apresentações dos relatórios aparecem sempre assinadas por directores da OCDE de um nível mais elevado (Barbara Ischinger, Ángel Gurria, Andreas Schleicher), do Directorate of Education and Skills ou da própria OCDE.

Pessoalmente, conhecia a situação desde o Verão passado, pois recebia a newsletter da FCSH por ser investigador de uma das suas unidades (se calhar não será “unidade” e provavelmente e eu seria mais “colaborador”, pelo que talvez me tenha de desmentir a mim próprio). No site da FCSH ainda conta a seguinte nota:

João Costa, diretor da NOVA FCSH entre 2013 e 2015, foi eleito presidente do Conselho de Direção do Teacher and Learning International Survey (TALIS), um dos órgãos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Atualmente a desempenhar funções como Secretário de Estado da Educação no governo português, o docente do departamento de Linguística ocupará o cargo durante três anos. O TALIS é o primeiro inquérito internacional que permite dar voz aos professores e diretores dos estabelecimentos escolares.

Através do preenchimento de questionários sobre desenvolvimento profissional, práticas de ensino ou impacto do trabalho docente, o TALIS tem como missão produzir informação que permita melhorar, de forma concertada, as políticas de educação a nível internacional.

De acordo com a OCDE, o TALIS é o segundo instrumento mais influente desta organização para a definição de políticas educativas, a par do PISA (Programme for International Student Assessment).

Entre nós temos casos de polític@s que descobriram a sua imensa inclinação académica para o estudo da Educação depois de serem ministras (MLR) ou que a desenvolveram em teses depois de exercerem o cargo e acederem em primeira mão a muita informação, por exemplo, da OCDE (Valter Lemos),

Parece que ainda não tinha acontecido esta coincidência de se estar no activo cá e a avaliar políticas lá fora. Há sempre uma primeira vez. Ou, se calhar, já aconteceu, nós é que nem sabemos.