Por Uma Avaliação a Sério do Desempenho Jornalístico – 3

Eu sei que os gurus mediáticos dizem que estamos num “novo paradigma” e que agora é o online que conta, mais as “plataformas digitais”. Mas nem tudo explica a incapacidade de alguns gestores do jornalismo que dizem ser jornalistas mas só produzem opinião enviesada para ultrapassarem o declínio. O relatório do Obercom que referi em post anterior é claro sobre a forma como avalia a fase do processo em que se encontra essa transição de “paradigma”.

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Mas passemos aos indicadores sobre o enorme mérito de quem dirige os “projectos” que se dizem “jornalísticos” entre nós.

Circulação impressa paga entre 2008 e 2015: perdas acima dos 36%.

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Vejamos os números por título. O Expresso tem perdas de 35%. O Público desce para menos de metade (48,3%) do que era. O Diário de Notícias para pouco mais de um terço do que era (circulação em 2015 representa apenas 34% da de 2008). No mesmo grupo, o Jornal de Notícias fica um pouco acima dos 50%. Até o Correio da Manhã perde circulação, embora apenas na ordem dos 10%.

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Veja-se a descida no indicador da eficiência:

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Veja-se como a evolução é pior entre o sector dos jornais económicos, dos semanários e diários de informação geral.

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Isto é apenas o resultado da crise? Pode ser. E pode não ser. O que é interessante é que, mesmo com crise, pediu-se sempre às escolas e aos professores que fizessem mais (sucesso) com menos (meios), mas essa lógica perde-se em outros “ambientes”, onde qualquer camilolourenço despeja sentenças como se de desarranjo opinativo se tratasse.

Se eu gosto que isto aconteça? Não, porque fragiliza a imprensa livre e torna-a ainda mais refém de interesses exógenos ao jornalismo… só que seria bom estudar se isto é apenas a tal mudança de paradigma se é algo mais profundo e que passa por uma crescente perda de confiança. Se as coisas não pioraram mais com a percepção dos leitores de que a informação estava progressivamente “contaminada”. 

Quanto ao desvio das verbas da publicidade (a composição desta publicidade por órgão de informação seria uma investigação muito, muito interessante, para se perceber quem ganhou e muito com pêtês, édêpês, bes, galpes e etc) para outros meios, vejamos a informação disponível desde 2004:

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É fácil perceber que a redução na imprensa é muito superior ao que é investido na internet e, mais relevante, a fatia da imprensa desce de 27,4% para 14,4% do total (o que é uma evolução independente da contracção do investimento publicitário). E a aposta nas plataformas digitais não sei até que ponto não terá já atingido alguma estagnação, pois parece ter mesmo entrado em quebra desde 2013.

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Não sei se isto explica uma enorme acrimónia em relação ao resto do mundo, mas não me parece razoável que explique tanta sanha anti-professores na orientação editorial mais recente da generalidade destes órgãos de informação, com destaque para alguns dos seus principais vultos directivos (o Observador é um caso particular, por ser recente e não ter edição em papel que nos permita fazer comparações).

O que isto me transmite é a necessidade da gestão do jornalismo impresso entre nós se repensar, ao nível da avaliação do seu próprio desempenho, antes de começar a largar bitaites sobre tudo e nada, como se soubessem alguma coisa acerca daquilo de que notoriamente não percebem.

Quanto dizem (os baldaias, os dinis, os fernandes, as garridos, os tavares e tantos outros espalhados pela imprensa que se gostaria que fosse séria, rigorosa e não preconceituosa) que os professores fogem à avaliação pelo mérito e progridem “automaticamente”, o que poderíamos nós dizer tendo em atenção estes números e o facto de vermos sempre as mesmas caras a rodar de cadeiras e a aparecer nas televisões como se fossem portadores de um qualquer conhecimento acima do comum dos mortais?

Já pensaram aplicá-lo na vossa própria actividade/casa?

bla bla bla

(e se o grande argumento é que nada disto é com “dinheiros públicos”, talvez fosse boa ideia ir lá atrás à tal publicidade que era feita a empresas com capital público maioritário e já nem falo na preparação das privatizações…)

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